quarta-feira, 3 de junho de 2009

Amazônia selvagem

Por Sergio Laus

Sergio Laus percorre com estilo a pororoca do Araguari, Amapá. Foto: William Let.

A pororoca já é uma realidade no surf brasileiro! Um secret spot eterno, que esconde as magias e os encantos da Floresta Amazônica. Um surf diferente e audacioso, que faz com que se torne uma aventura digna para ser recordada a vida inteira e com histórias a ser repassada de geração em geração.

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A onda é muito, mas muito perfeita! Quem não foi diz que é ruim ou que a onda é gorda... mas sempre tem um querendo menosprezar um pico novo e diferente! Ainda mais quando não se está ao seu alcance. Porém o que se vê nas telas ou nas fotos, não se compara à situação real de estar diante da onda mais longa do mundo, ouvindo seu ronco com uma hora de antecedência, sentindo um frio na barriga sem saber o que está chegando!

Sergio Laus em sua base amazônica. Foto: Lorraine Lima.

Um monstro? Um tsunami? Não!!! Uma onda “sem fim”, que quebra pra todos os lados e com todas as formas e condições. Parece sacanagem, mas é verdade! Uma energia muito intensa, que mexe com a população local e seus visitantes.

Estou ao Norte do país, mais precisamente em Macapá, capital do Amapá, desde fevereiro deste ano, pois a temporada de pororoca é justamente mais forte no primeiro semestre, período de chuvas. Com isso a variação de marés é maior e o rio fica liso – “glass” total.

Minha base mudou do Sul para o Norte, aliás, nos últimos anos já estava sendo dividida entre estes dois extremos. E agora me fixei na Amazônia, surfando toda lua cheia e nova, períodos da pororoca, além de levar equipes de surfistas, produtoras e imprensa nacional e mundial para vibrar o maior fenômeno fluvial da Amazônia.

Este ano a força das marés está muito forte e chegamos à conclusão, fazendo comparações com anos anteriores, de que o ano de 2009 está com a maior pororoca dos últimos 15 anos. A onda está percorrendo mais de 50 quilômetros rio adentro.

Lugares onde somente os antigos lembravam de ter observado ela aparecer, hoje em dia relembram os dias de fúria do encontro das águas. O surf na selva tornou-se mais adrenalizante, porém seguro pela experiência de 10 anos de convivência com este fenômeno da natureza. Quem pensaria ser possível surfar uma onda por duas horas e meia, numa perseguição incansável?

Impressionante, ainda mais que nos meses de fevereiro, março e abril, tivemos surf todos os dias, não apenas nos períodos de marés grandes! Ou seja, uma média de duas horas de surf incessante por dia. Um total de 60 horas de surf por mês, o equivalente a 3.600 minutos de onda!!! Caracas... Acho que estou fazendo a conta errada!!! Mas acho que não... É isso mesmo!

Onde no mundo você consegue surfar todo esse tempo durante 30 dias? Um campo de treinamento onde uma seção básica, formando uma esquerda perfeita, quebra incansavelmente por 30 minutos sem parar, praticamente igual todos os dias.

Dá pra calibrar o surf por completo, desde o estilo, posicionamento de braços, pernas, postura na onda, a própria base na prancha e testar pranchas diferentes. Muita coisa apenas em uma parte do rio! E se virar numa direita de 27 minutos???

Realmente é impressionante e fico até em dúvida em escrever tudo isso.

E a pergunta: crowd??? Graças ao bom Senhor, este pico é isolado numa área remota e distante da civilização, numa região temida e respeitada por toda a população amazônica. A difícil navegação e a constante mudança de bancos de lama deixam o local hostil. Bom, muito bom isso! Assim o pico fica protegido, muito bem guardado. Somente com poucos especialistas o surf na selva, pode tornar-se viável e seguro.

Completamente diferente de pegar a mochila e as pranchas e rumar para algum pico de altas ondas. A logística e o planejamento da expedição devem ser friamente calculados e alcançados. Caso contrário, um erro pode se tornar fatal. Isso não é para assustar quem está muito a fim de conhecer e surfar a pororoca. É sim um alerta e uma dica de quem já se deu muito mal na floresta e aprendeu (ainda aperfeiçoando) tudo o que deve fazer nesse paraíso. Ainda mais com essa superdivulgação que estamos tendo com o surf na selva.

Matérias nos canais de televisão, nos jornais de grande circulação, nas revistas, com destaque a Fluir e o próprio site Waves.Terra, veículo oficial da equipe Surfando na Selva, que tem os melhores profissionais em “Tidal Bores” (ondas de marés) do planeta, com expedições pelas marés do Maranhão, Pará, Amapá, Bordeaux - França - e Hangzhou, China.

Esse texto está ficando longo, pois são 50 pororocas já surfadas no Brasil. Que até em junho ficará em 53 expedições! E é a primeira matéria que escrevo depois de muitas horas de surf. Dada a primeira mensagem é hora de curtir as imagens, com uma coletânea dos fotógrafos “sangue bom”: Alvinho Duarte, William Let e Daniel Smorigo, que quebraram com altas imagens na selva.

As fotos em que apareço com uma prancha verde, trata-se de 5'8'' shapeada pelo Rico de Souza nos anos 70. É uma biquilha, swallow com wing no final da rabeta, típica prancha dos anos dourados, com uma superflutuação principalmente do meio para o bico.

Agradecimentos especiais aos meus patrocinadores Goofy, Ogio, Academia Gustavo Borges, Pro-Lite e Outdo, e também à Santa GPS – Garmin, deputado federal William Woo, Governo do Estado do Amapá, Prefeitura Municipal de Cutias do Araguari, Polícia Militar do Estado do Amapá, Batalhão Ambiental do Amapá e o Instituto Pororoca.

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