terça-feira, 16 de junho de 2009

Etanol: A redenção da cana no bagaço

Paulo Whitaker/Gazeta do Povo

Paulo Whitaker/Gazeta do Povo /
2ª geração

O álcool brasileiro, que chegou a ser apontado como vilão do aquecimento global, é hoje a principal aposta do mundo em direção à sustentabilidade

Publicado em 16/06/2009 | Luana Gomes

Com o avanço das pesquisas, o etanol de segunda geração tem datas e locais definidos para estreia. A revolução energética opõe novamente Brasil e Estados Unidos, os dois grandes players mundiais na produção, consumo e exportação de álcool. E apesar do know-how incontestável do Brasil com a cana-de-açúcar, quem sai na frente são os EUA, onde a tecnologia para extração do etanol celulósico de milho estará disponível no próximo ano. Por aqui, a transformação da celulose da cana ocorrerá a partir de 2012.

Mas, se o Brasil não será o primeiro a ter acesso à tecnologia, tem tudo para liderar o mundo na revolução do etanol. Em 2020, o país estará produzindo entre 10 e 17,3 bilhões de litros de etanol celulósico. Com acesso a mercados como EUA e Europa, poderá faturar cerca de US$ 7,8 bilhões por ano com exportações. As projeções são da New Energy Finance, consultoria inglesa especializada em energia renovável.

Valterci Santos/Gazeta do Povo

Valterci Santos/Gazeta do Povo / Produção de combustível a partir de celulose pode ser feita em usinas de álcool Ampliar imagem

Produção de combustível a partir de celulose pode ser feita em usinas de álcool

Nos EUA, a produção de álcool acontecerá a partir da biomassa do milho – colmo, sabugo e palhada. No Brasil, a matéria-prima da segunda geração, o bagaço da cana, continuará mais competitivo, por ser mais sustentável dos pontos de vista social, econômico e ambiental. “Aqui, a indústria já está estabelecida, e é competitiva ”, diz William Yassumoto, gerente de marketing da Novozymes. A multinacional dinamarquesa, com unidade industrial em Araucária, é uma das empresas que lidera a corrida mundial pelo etanol de segunda geração.

Como o bagaço da cana já está dentro da usina, não há custos fixos. E os custos variáveis podem ser diluídos com ganho de escala. Já nos EUA, há uma complicada e cara logística de coleta, transporte e armazenagem, para a qual a indústria local ainda não está preparada.

Na primeira geração, o etanol brasileiro já levava vantagem. Enquanto o milho exige quebra enzimática do amido em glicose, na cana a liberação da sacarose é feita fisicamente, pela moagem. E os custos podem ser reduzidos ainda mais na segunda geração. Unindo tecnologias de primeira e segunda geração, é possível obter até 50% mais álcool por hectare de cana, garantem empresas e institutos de pesquisa que participam da corrida tecnológica. Hoje, um hectare de cana rende em média 85 litros de etanol. Com o processamento dos resíduos o rendimento pode saltar para quase 130 litros.

O ganho de produtividade também dá ao Brasil mais dois selos: de sustentabilidade social e ambiental. Social porque, produzindo mais na mesma área, a cana não “rouba” área de alimentos. Ambiental porque não aumenta as emissões de gases do efeito estufa, pois não é necessário desmatar florestas para ampliar a produção. São condições importantes para a abertura de novos mercados, considerando que o Brasil tem sido fortemente cobrado pela comunidade internacional. Em 2008, o etanol brasileiro de cana chegou a ser apontado como um dos maiores vilões do aquecimento global e da inflação dos alimentos. Hoje, é visto como parte da solução.

Desafio é viabilizar acesso à tecnologia

Bagaço da cana-de-açúcar, sabugo de milho, grama, casca de árvore e outros resíduos vegetais, pneus e até lixo urbano. Opções de matrizes renováveis para substituir o petróleo não faltam. Para produzir etanol, basta que a biomassa que serve de matéria-prima tenha celulose, “açúcares fermentáveis, que possam ser quebrados por um processo químico”, explica o presidente regional para América Latina da Novozymes, Pedro Luiz Fernandes.

De forma simplificada, o processo de transformação de biomassa em combustível consiste de três etapas, explica o diretor. No pré-tratamento, o bagaço – de cana ou qualquer outra matéria-prima – é preparado para que a maior quantidade possível de biomassa possa ser extraída. A segunda fase, a hidrólise, é a quebra dos açúcares. Essa reação química pode ser acelerada por enzimas, micro-organismos ou ácidos. A terceira etapa é a fermentação, como já ocorre no caldo de cana para fabricação do etanol de primeira geração, a partir do produto primário.

Em teoria, para que uma usina de álcool possa produzir etanol a partir de celulose no Brasil, basta que seja instalada junto a ela uma planta capaz de executar a operação de hidrólise. Os açúcares provenientes da quebra da celulose seriam misturados ao caldo da cana e, em seguida, passariam pelos processos de fermentação e destilação. Na prática, soma-se ao investimento em infraestrutura o custo da tecnologia, que ainda é muito alto. “O segredo para reduzir custos e viabilizar economicamente a produção está na primeira e segunda fase desse processo. É aí que estamos trabalhando”, diz Fernades.

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