sexta-feira, 12 de junho de 2009

Leonardo DiCaprio e as verdades inconvenientes - veja o vídeo.

Ele mesmo vos dirá que, se anda fascinado pelo conhecimento, tal traço lhe vem do pai. Leonardo DiCaprio não tem hesitações quando se trata de assumir que o pai, George, é senhor de uma enorme sensatez. Da mãe Irmelin, uma alemã que parece ser também uma grande amiga, herdou a ética laboral e a falta de papas na língua. Como ela, DiCaprio é directo. Diz o que pensa. E isso tem-lhe sido útil.

Aos 34 anos, o rapaz colabora com Martin Scorsese - ou Spielberg, ou Ridley Scott, ou Sam Mendes - como se fosse a coisa mais normal do mundo. Isto quando não está sentado à mesa com presidentes e líderes vários na divulgação da sua ambiciosa agenda ambiental.

No reino dos verdes, Leonardo impera. Se a revista "Vanity Fair" vai precisar de uma capa com alguém convictamente engajado na luta pela natureza, o actor é convidado. Se é preciso despertar as massas, ele mesmo faz um documentário espantoso chamado "The 11th Hour", onde se diz, entre números cada vez mais tristes, que é quase demasiado tarde para salvar o Planeta. E na revista "Time", lá está ele outra vez. O actor podia ser apenas escravo das bilheteiras mas prefere revelar que considera Van Jones, o secretário de Estado norte-americano para o Ambiente, uma das pessoas mais influentes do mundo.

Muito popular entre as gerações novas, DiCaprio apresenta-se cada vez mais como visionário da ecologia. Dedica uma parte do seu site oficial à crise climatérica, e, para sublinhar a devoção, comprou uma ilha no Belize onde, garante, um dia vai ser feito um resort biodegradável.

Ultimamente tem passado meses na companhia do realizador Martin Scorsese, algures em Boston, a fazer as cenas em que o seu Teddy Daniels - um marshall novo nos anos do pós-guerra - chega à remota Shutter Island para investigar o desaparecimento de uma assassina fugida da ala psiquiátrica da prisão local. O filme vai estrear em Outubro e, naturalmente, é injusto esperar menos que outra exibição exuberante na carreira daquele que é, dizem, o talento mais sensível da sua geração.

Depois do sucesso de "Titanic", podia ter optado por fazer filmes de aventuras e ganhar dinheiro. Mas seguiu outro caminho e afastou-se, como se quisesse desaparecer, para depois regressar como o vemos agora, um líder. Porquê?
Não é que eu queira revisitar águas passadas, mesmo que sejam aquelas que afundaram o "Titanic", mas houve de facto ali um momento em que a minha vida se isolou do resto do mundo. Eu, pelo menos, sentia que estava constantemente debaixo do microscópio. Não teve nada de mal e compreendo o fenómeno. O filme foi realmente um sucesso internacional. Tal era a natureza do animal, pensei eu. Não me podia queixar de nada. Mas tinha chegado a altura de fazer uma pausa.

Ainda se lembra de como descobriu a protecção da natureza como paixão de vida?
Quando parei por uns tempos questionei-me: o que devo fazer para agradecer? A sorte que eu tive! Aos 22 anos e já com tanto sucesso, mais sucesso do que aquele que queria atingir quando comecei a pensar em ser actor, tinha eu 13 anos. Todos os meus sonhos estavam ali, realizados. Faltava saber como agradecer?! Foi então que decidi dar atenção a algo importante e onde, nem que fosse por apenas um milímetro, eu poderia ajudar. Já na escola as únicas disciplinas que me interessavam eram Ciência e Biologia. O planeta. A maneira como o planeta funciona, o clima, a biodeversidade.

E travou conhecimento com Al Gore.
Sim, visitei a Casa Branca e ele teve tempo para se sentar comigo durante uma hora e explicar a ameaça que corríamos, todos, na área do aquecimento global. Foi ele quem me disse "Este é o assunto mais importante que a humanidade vai enfrentar". Pediu-me que me envolvesse um pouco mais, isto é, se eu achasse algum interesse no assunto. Claro que me interessava! A partir daí tive de me educar. Falei com muita gente. É um problema que precisa de ser conhecido, divulgado. E tem sido. Há 10 anos, quando comecei a alertar publicamente para o perigo que se aproxima, as pessoas olhavam para mim como se eu estivesse a prever uma coisa estranha, tipo invasão de extraterrestres. Foi o documentário do Al Gore, "Uma Verdade Inconveniente", que mudou tudo. Os media têm um poder extraordinário quando se trata de permear a psique humana.

Vejo que está agarrado a uma garrafa de água mineral das ilhas Fidji. Não sei se isso não vai contra o cânone verde actual, no sentido de as pessoas beberem apenas o que existe na sua região...
(rindo-se) Tenho esta garrafa na mão porque foi a que me puseram à disposição para as entrevistas. Não me diga que também vou ter de responder a uma acusação dessas! Não? Uff.

Mas diga, por exemplo, aquilo que faz no dia-a-dia para proteger a natureza.
Há muito que ando atento às novas práticas ambientais. O interesse maior está no facto de haver tantas tecnologias novas e eu, em particular, estar numa posição em que me é possível promovê-las. Seja a conduzir um híbrido - algo que já faço há 10 anos - ou a colocar painéis solares no telhado da minha casa em Los Angeles. Mas não quero estar aqui a descrever ao pormenor aquilo que faço diariamente. Um dos aspectos mais fascinantes deste debate é que não vale a pena dar sermões. Ultimamente tenho evitado colocar as coisas nesses termos. É um erro dizer às pessoas como devem viver a vida. Acho até que a grande maioria do público não gosta de ser castigada socialmente. Eu faria o mesmo, se alguém apontasse o dedo. Nem toda a gente dispõe de poupanças ou crédito para comprar e instalar painéis solares! O mais importante é que as pessoas tomem conhecimento do que se passa. Temos de criar essa consciencialização global. E, se a minha presença no debate lhe traz pelo menos esse valor acrescentado, se através de mim conseguirmos dar visibilidade à urgência das alterações climatéricas, então fico feliz. Esta é a razão por que falo publicamente.

Mas o que o motiva? Há, claramente, uma satisfação pessoal.
A minha esperança é que as multinacionais e outras grandes companhias, com incentivos do poder político e outras forças dominantes, implementem as mudanças fundamentais. Seria bom chegarmos a um ponto em que não temos de pensar na origem desta garrafa de água mineral, ou se o carro que compro é bom para o ambiente, se o combustível usado tem qualidade, etc. O que quero é chegar a um futuro em que já não vai ser preciso pensar nestes termos porque a nova maneira de viver vai estar totalmente integrada na vida normal de todos os dias.

Que opinião tem da política ambiental de Barack Obama?
Gostei quando há dias ele disse que, se houver de facto mudança, terá de ser colectiva. Falávamos há pouco do meu esforço pessoal, diário, na conservação dos recursos naturais, mas toda a gente sabe que isso de andarmos a enroscar novas lâmpadas nos candeeiros lá de casa é pura treta. Para que alguma coisa mude todos nós temos de mudar. Tem de ser uma mudança colossal a nível planetário. Por mais que tentemos desviar a visão para as pequenas acções de solidariedade ambiental que todos somos capazes de incorporar na rotina, acho que o aspecto colectivo do movimento se mantém prioritário. Se as pessoas quiserem ajudar todos os dias um bocadinho, fantástico!

Mas não acha que as expectativas são exageradas? Acredita que a eleição de Barack Obama vai mesmo alterar as emissões poluentes de um país altamente industrializado como os Estados Unidos?
A verdade é que Obama já está a pôr em prática as promessas ambientais que fez durante a campanha. Foi uma mensagem que ele até levou aos debates. Agora que ocupa a Casa Branca (muito elegante e poderosamente, devo dizer) continua a defender que uma das chaves para a estabilidade nacional passa pela independência energética e pela promoção de todo o tipo de iniciativas verdes. É uma mensagem cheia de determinação que diz, basicamente, o seguinte: vamos acabar com este vício de ir buscar combustível ao estrangeiro e, sobretudo, vamos acabar com a prospecção petrolífera nacional, porque isso serve apenas para prolongar um mau hábito. Melhor é pôr termo à dependência energética, criar muitos milhares de empregos verdes que possam ter um impacto positivo no desenvolvimento futuro deste país e, assim, parar o aquecimento global criando uma economia sustentavelmente verde. É, de facto, um objectivo imenso mas ainda hoje de manhã, na televisão, lá estava ele a falar outra vez deste plano.

Mas o que me está a dizer é que, apesar do tamanho da empreitada, a sua expectativa se mantém inabalável.
Barack Obama é o homem certo para este tipo de visão. Em toda a minha vida nunca assisti a um levantamento público com esta magnitude, em direcção a uma só pessoa. É incrível estar aqui a ver tudo isto acontecer. É um momento maravilhoso na nossa história. E tudo o que nos é pedido é que levemos por diante aquilo que ele anunciou, dar-lhe o poder para que faça o que deve ser feito. O povo já disse de sua justiça. A mensagem foi clara.

Mas se somos todos consumistas inveterados, como é que vamos mudar?
É por isso que digo que a iniciativa tem de partir do topo. Penso mesmo que, sem isso, é tudo em vão. O Governo existe para estar ao serviço das pessoas e tem de ser uma iniciativa ao nível de todos os governos do mundo. Já nem estou sequer a falar do Protocolo de Quioto. Claro que é vital baixar as nossas emissões para a atmosfera mas isso é o mínimo que devemos fazer. Quando falo em liderança, refiro-me a um tipo de mudança que só pode ser feita com o acordo de um Presidente como o que temos actualmente. Algo de estrutural tem de mudar. Por exemplo, a maneira como as grandes companhias fazem negócio entre si; os métodos como produzimos energia... Temos de oferecer benefícios fiscais a todas estas tecnologias verdes. Sim, qualquer esforço individual é válido e tem mérito mas é muito difícil sentir que o meu impacto é positivo quando vou no meu carro híbrido e passo ao lado de uma siderurgia envolta em fumos nocivos. Mesmo que eu conduza aquele carro durante um mês sem parar nunca vou poluir tanto o ambiente como aquela fábrica em cinco minutos. É desmoralizante e, pior, contraproducente. Falar nos pequenos gestos diários é bom para divulgar o movimento mas, para que haja alteração da realidade, a força inicial tem de vir do Governo. A América, com este Presidente, podia bem ser o país a dar o exemplo.



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