segunda-feira, 15 de junho de 2009

Meio ambiente e sustentabilidade exige pensar em conhecimento



Por Katerina Volcov*

Meio ambiente, proteção florestal, mudanças climáticas, Copenhaguen, G-8, desmatamento, Bill Clinton no Brasil e sustentabilidade podem ser consideradas as grandes chamadas nesta semana, ainda mais com o dia do meio ambiente. E eu me pergunto o que o pessoal que mora em Bonsucesso pensa sobre isso.

Esta semana, tive a oportunidade de fazer um tour em transporte coletivo por alguns bairros da periferia de Guarulhos, incluindo o citado acima. Não posso afirmar que as preocupações ambientais fazem parte da agenda local do bairro porque não desenvolvi nenhuma pesquisa no local indicado, mas não tenho como não mencionar o que os meus olhos pequenos burgueses puderam observar. Sim, devo admitir aos leitores mais críticos que sou alguém que cursou uma universidade e alguns outros cursos, e, por isso, também devo me considerar como tal. Já dizia Bahktin que todo discurso é ideológico por natureza.

Casas em construção irregular, inúmeras ruas sem pavimentação, esgotos a céu aberto, quadra poliesportiva semiabandonada onde a terceira idade caminha, nenhum outdoor, nenhum grande magazine, alguns botecos, lojinhas feitas na garagem, vendinhas, muito barro, pontos de ônibus depredados, falta de transporte coletivo, ônibus lotado, uma escala de cor que vai do cinza, passa pelo ocre e vai pro branco sujo, numeração residencial díspare, poucas escolas, muitas igrejas e ruas sem árvores, sem calçadas e sem flores. Claro que isso tudo não estava localizado na avenida próxima ao shopping Center Bonsucesso ou à Unifesp. É nas entranhas do bairro, nas vielas por onde passa o circular que podemos observar essa natureza-morta.

Com base naquilo que vi, continuei a me questionar se por acaso eu fosse até a quadra onde estavam aqueles senhores e senhoras ou mesmo se conversasse com as pessoas que passavam pelo ponto de ônibus o que eles entendiam por sustentabilidade, coleta seletiva de lixo e o que eles fariam neste dia 5, data conhecida como o Dia Mundial do Meio Ambiente. Imaginei inúmeras respostas. E por falta de tempo e disponibilidade naquele instante, não fiz a pergunta. Por isso, não posso afirmar nada. Mas os questionamentos permaneceram.

Como falar de meio ambiente num local onde não há árvore nem calçada? Como pensar em sustentabilidade quando a preocupação é “vou conseguir um emprego esta semana?” ou “preciso ir ao hospital levar meu filho doente e tentar conseguir um remédio”. Pensar em meio ambiente e sustentabilidade exige que pensemos sobre itens básicos como geração de riqueza e conhecimento.

Entre o universo sustentável dos eventos e cursos de gestão nessa área e a realidade crua e nua de Bonsucesso há um abismo. Não dá para exigir uma postura sustentável de alguém que mora em um local onde nem sabe ao menos o número de sua residência. Pensar somente no desmatamento da Amazônia ou a entrada agressiva do agronegócio no norte do país é importante e se faz necessário. Porém, se considerarmos o meio ambiente como o local onde estamos, é imprescindível que novas formas de se olhar e se praticar responsabilidade socioambiental sejam dispostas em locais como Bonsucesso ou em inúmeras favelas inseridas em bairros de classe média de São Paulo, como a favela do Buraco Quente, da Rua Alba, Águas Espraiadas e por aí vai.

É preciso que as preocupações em relação ao meio ambiente não se restrinjam a plantar árvores e distribuir mudas com logomarcas de grandes empresas, mas sim, que essas mesmas instituições juntamente com organizações populares possam chegar a um consenso das reais necessidades da população e que projetos e políticas públicas com incentivos de empresas locais possam trabalhar em prol de um desenvolvimento local que traga saúde, educação, cultura e geração de prosperidade.

Só assim, poderemos comemorar de fato o Dia do Meio Ambiente.

* Katerina Volcov é diretora da Soma Agência, desenvolve projetos de responsabilidade socioambiental, gosta de percorrer caminhos alternativos para se chegar a novas possibilidades e não se deixa seduzir pela entrega de mudas de árvores e sementes

(Envolverde/Pauta Social)



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