terça-feira, 16 de junho de 2009

Países ricos elegem o carro elétrico


Roberto do Nascimento
Os dias do etanol como combustível líquido dos automóveis estariam contados - contados em décadas, não em dias; e se não contados, limitados. A indústria automobilística parece já ter escolhido o que vai mover o transporte urbano no mundo do futuro: o carro elétrico. Pessoas dos setores automobilístico e sucroalcooleiro que estiveram no Ethanol Summit e participaram dos debates sobre a tecnologia flex fuel e sobre o combustível do futuro, em São Paulo, apostam nessa virada tecnológica, informa Janaína Simões no boletim da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dedicado à inovação tecnológica.

O ex-presidente Bill Clinton já havia ligado os motores elétricos ao carro do futuro. O etanol? Ficaria para os muitos países pobres que, sem condições de importar a nova tecnologia, continuarão a rodar com motores a combustão. "Para esses mercados, o etanol brasileiro é o melhor produto disponível", afirmou Clinton.

Como a transição será lenta, o papel do etanol no futuro poderá ser o de abastecer os carros convencionais, que vão continuar existindo, e também o de fornecer a segunda fonte de energia para os carros elétricos. Os debatedores acreditam que várias soluções tecnológicas vão conviver no mercado, de acordo com as características e interesses de cada país. O etanol pode, ainda, ser matéria-prima para produção de gasolina, diesel e combustível para aviação, entre outras possíveis aplicações.

Henrik Fisker, presidente da Fisker Automotive, produtor de veículos elétricos, e Prabhakar Patil, presidente da Compac Power, produtora de baterias e grande interessada em veículos elétricos, acreditam que o veículo elétrico é o futuro e John Melo, presidente da Amyris, que trabalha com biologia sintética e já criou micróbios especialmente desenhados para produzir etanol e novos tipos de biocombustíveis, propõe o etanol. Mas os especialistas acreditam que ainda vai demorar pelo menos 50 anos para que se desenvolva a infraestrutura para atender os carros elétricos. Para Patil, o atual período é de transição entre os modelos baseados em petróleo e em energia renovável, mas o futuro é o carro elétrico. O jornalista Geoffrey Carr, editor de ciência da revista The Economist, questiona se a tecnologia do carro elétrico é realmente "mais verde". Isso porque as baterias usam lítio, cobre e alumínio, por exemplo. Além disso, o carro elétrico promoverá um aumento no consumo de energia elétrica. Quem vai fornecer essa energia aos carros?

Fisker respondeu que o problema não é saber que tecnologia veicular é mais verde, mas gerar energia localmente. E essa energia deve sim ser produzida de maneira sustentável, seja pela forma eólica, solar ou hídrica, e até mesmo o etanol pode ser usado para produzir a quantidade extra que será necessária para os automóveis. Melo rebateu dizendo que está olhando para daqui 20 a 30 anos, não 80 a 100 anos. Nesse caso, usar biocombustível, para ele, ainda é a melhor opção. Patil respondeu: de acordo com ele, as baterias que sua empresa produz são totalmente recicláveis - o lítio é uma substância não tóxica, usada inclusive em medicamentos; o alumínio e o cobre têm valor comercial e são reaproveitados pela indústria. O empresário contou que estão sendo montadas a infraestrutura e as operações necessárias para reciclagem dessas baterias, sem especificar em que países isso estaria ocorrendo.

Para Fisker, os Estados Unidos vão liderar a produção de veículos elétricos. Carros elétricos chineses não teriam certificação e não atenderiam aos requisitos de qualidade e segurança exigidos no mercado dos EUA e da Europa. Contudo, ele acredita que os chineses têm potencial para desenvolver mais rápido a tecnologia, devido aos recursos financeiros de que dispõem. Daí achar que existe uma possibilidade de os EUA perderem essa corrida. Fisker lembrou que a tecnologia do carro elétrico é "disruptiva" (radicalmente nova), o que não acontece com a tecnologia do etanol, que usa o carro e a infra-estrutura existente. Já o carro elétrico requer um redesenho completo dos automóveis, porque não se trata de simplesmente instalar a bateria no motor a combustão atual.

Marcos Jank, presidente da União dos Produtores de Cana-de-Açúcar (Unica), questionou se haveria energia elétrica para abastecer todos esses veículos. Os empresários que defenderam os carros elétricos dizem que a tecnologia não será adotada no curto prazo, nem de forma maciça imediatamente, e que por isso haveria tempo para pensar nas alternativas de produção de energia mais limpa, de forma que essa não seria uma questão fundamental para o uso dos veículos elétricos hoje.

Para Jank, de acordo com Janaina Simões, os defensores do carro elétrico não sabem dizer como será a reciclagem da bateria, o que será feito da frota cativa, que usa combustíveis líquidos, já que não é possível converter um carro movido a combustível líquido para um que use eletricidade; e como será a resposta à difusão dessa tecnologia nos mercados mais avançados, já que o menor consumo de petróleo deverá provocar uma queda em seus preços. Na hipótese de aumento de consumo de petróleo por países que não dispuserem da tecnologia do carro elétrico nem quiserem adotar o etanol, pois seria mais fácil manter uma frota a gasolina ou diesel, o crescimento do uso do combustível fóssil estará acompanhado da elevação das emissões de gases de efeito estufa, anulando os esforços dos países ricos com o uso do carro elétrico.

DiárioNet

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