O homem já alterou a atmosfera do planeta. A ecologia tem de se unir à ciência para tentar reduzir o estrago
Márcia Macul e Sérgio Prado - O Estado de S.Paulo
O lixo aumenta, mundialmente, de 8% a 10% ao ano e o índice de reaproveitamento em São Paulo mantém-se igual há cem anos, por volta de 1%. Os órgãos municipais e mesmo o Ministério Público parecem não se incomodar com o acúmulo e depósitos insalubres nos aterros sanitários e lixões a céu aberto.
Essa realidade foi esplendidamente mostrada em uma animação de Walt Disney, Wall-E . A Terra é um planeta onde só restaram detritos, os habitantes voaram para outro mundo, um shopping de lazer, onde, robotizados, se deleitam em piscinas e compras, em eterno repouso.
Viver com qualidade socioambiental significaria hoje ter total controle dos resíduos produzidos pelo homem, não descartá-los ou queimá-los sem dar satisfação. Metrópoles ricas como Nova York e Otawa têm trens especiais para levar seus restos a 500 km e 800 km de distância. O litoral norte do Estado de São Paulo, bem mais pobre, não tendo trens especializados, carrega os seus resíduos em caminhões que sobem a serra, poluindo o entorno ininterruptamente, até chegar à cidade de Tremembé. Em todos os casos, são situações sem precedentes, visto o espetáculo de consumismo a que fomos levados, subliminarmente, chegando a este atual estado negativo de vida.
O homem já alterou decisivamente a atmosfera e o clima do Terra (40%), aniquilou 35% das espécies vivas, espalhando substâncias químicas tóxicas pelo mundo, represou e poluiu a maioria dos rios (60%), elevou o nível dos mares e agora está perto de esgotar a água do planeta.
Assim, precisamos de maior urgência em nossa participação total no desenvolvimento sustentável - para o presente e para o futuro. O desenho urbano e a arquitetura necessitam unir ecologia e tecnologia em busca de pesquisas para reconstruir cidades e comunidades humanas sustentáveis - a ecologia aliando-se ao maior apoio científico para que as comunidades passem a ser rigorosamente geridas para produzir o menor impacto possível sobre o meio ambiente, funcionando como verdadeiras cidades verdes sustentáveis.
Tomando como princípio-base o fato de o Brasil ser o maior sistema hídrico do planeta e de maior captação solar, seu problema não é a falta de energia, mas sim a falta de distribuição correta das fontes naturais. Para tanto, se torna imprescindível evitar e reaproveitar os desperdícios - burocráticos, técnicos e produtivos. Diante dessa crise entrópica, convém formular soluções para uma nova cidadania, ciclicamente estruturada no reaproveitamento de todos os resíduos descartados, numa dinâmica estável e lucrativa do consumo ao "com sumo". O símbolo desse paradigma é uma nova bioeconomia pragmática a criar um novo PIB e selo verde - transformando este desgaste em nova energia e elementos construtivos limpos, numa práxis contínua de arquitetura sustentável. Arquitetura que não consuma nem deprede a natureza, reponha e reaproveite serviria como educação, ensinamento e capacitação para as pessoas. Todos os resíduos (plásticos, orgânicos, minerais, pneus, óleo de cozinha e lodo) podem ser totalmente reaproveitados como novos bens duráveis, como elementos úteis para a construção sustentável (pisos, blocos, painéis de paredes, telhas). Em tal patamar de bem-estar, usinas "limpas" receberiam esses descartes inesgotáveis e contínuos e máquinas esterilizariam, secariam, picariam e ensacariam essa inédita matéria-prima com energia própria renovável. Novas resinas biodegradáveis, como o poliuretano vegetal (vindo das oleaginosas, as mesmas plantas que fazem o biodiesel e o bioquerosene), amalgamariam e encapsulariam todo essa matéria já inerte, tornando-a mais resistente que os atuais produtos do mercado tradicional. Rompendo a cadeia viciada de descarte/transporte/depósitos contaminantes em aterros, surgiria um ciclo sustentável de energia e matérias limpas e passíveis de novos tratamentos.
Capaz de solucionar as crises sociais, ambientais, econômicas, a trilogia do atual projeto de lei 1269/07, na Assembleia Legislativa de São Paulo - lixo zero, arquitetura sustentável, energia renovável -, tem a meta possível de novas instalações emblemáticas, bastando uma ação política responsável de cidadania e cooperação local/global. Novos materiais com origem comprovada, a produção limpa e uma destinação correta são três itens significativos de um verdadeiro selo verde.
A previsão de 9 bilhões de seres humanos no final deste século é alarmante se não se encontrar meios de vida sustentável para o mundo inteiro. Sabe-se que cada geração vive da herança recebida das civilizações precedentes. É assim que há, em todas as épocas, os benefícios acumulados, tais como o capital humano (conhecimentos, técnicas, ciência), o capital artificial (edifícios, infraestrutura) e um importante capital natural (água, ar, diversidade biológica). As consequências poderão ser catastróficas se não se cuidar da natureza devastada da atualidade, em que casas e cidades já causam estresse, violência e transtornos a boa parte da civilização. Esta é nossa nova Idade da Terra, que não se cansa de ter esperanças.
*Arquitetos, ambientalistas, criadores da ONG Verdever
Infelizmente é isso que está a acontecer e concordo plenamente que por este andar só com uma nova idade da Terra.
ResponderExcluirMas felizmente existem pessoas que combatem que isso não aconteça, eu por exemplo criei um site e um blog com 2 amigos para sensibilizar as pessoas para o grande problema que é a extinção.
Já agora fica aqui o link:
www.zooplaces.vze.com
www.szoooplaces.blogspot.com
(NÃO TEMOS FINS LUCRATIVOS)