segunda-feira, 15 de junho de 2009

Soluções para o lixo tecnológico

Tecnologia

Cezar Taurion é gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM Brasil.

A informatização global apresenta um novo problema: o descarte do lixo eletrônico. Estudos feitos nos EUA mostram que ele já é responsável por mais de 70% das contaminações por metais pesados registrados em aterros americanos.

15 de junho de 2009 - 16h36
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O mundo está se informatizando. Já se fabrica mais transistores do que se colhe arroz no mundo. Algumas estimativas apontam que já existem mais de um bilhão de computadores pessoais e pelo menos 3,66 bilhões de celulares no mundo. É uma boa notícia. Por outro lado, ela apresenta um novo e sério problema quando pensamos no descarte de todo esse material. Alguns estudos feitos nos EUA vêm mostrando que o lixo eletrônico já é responsável por mais de 70% das contaminações por metais pesados e 40% da contaminação por chumbo registrados em aterros americanos.

No Brasil, somente no ano passado, foram vendidos mais de 10 milhões de microcomputadores. Estima-se que em 2015 poderemos ter instalado no país cerca de 100 milhões de PCs. Somos também o 3º país em ritmo de crescimento de celulares (perdendo apenas para China e Índia), com mais de 28 milhões de aparelhos vendidos nos últimos doze meses. Já chegamos a mais de 140 milhões, com uma densidade de 73,2 aparelhos por 100 habitantes.

Celulares e microcomputadores tornam-se em pouco tempo obsoletos. No Brasil, por exemplo, dos mais de 28 milhões de celulares vendidos nos últimos doze meses, pelo menos 10 milhões foram comprados por usuários que trocaram de aparelho. Estudos das Nações Unidas mostram que de 20 a 50 milhões de toneladas de equipamentos elétricos e eletrônicos são descartados anualmente no mundo todo.

Nos EUA, cerca de 50 milhões de computadores vão para o lixo todos os anos e no Japão, em 2010, já terão sido descartados 610 milhões de celulares. O consumo desta imensa quantidade de matéria-prima, além da possibilidade de contaminação pelo seu descarte descuidado, demanda pressão muito grande dos recursos naturais. Uma estratégia de reciclagem poderia fazer com que estes equipamentos descartados fossem reaproveitados em novos equipamentos, atividade que ainda é praticamente inexplorada pelas empresas e poderia ser até uma oportunidade de negócio.

A indústria atual trabalha com o conceito de “obsolescência programada”, já planejando o futuro (e rápido) descarte dos produtos que fabrica. Quando um eletrodoméstico apresenta defeito é substituído por outro mais novo e quase nunca é consertado, até porque muitas vezes o custo é quase igual ao de um equipamento novo. Temos que acelerar os programas de reciclagem e recondicionamento de celulares e computadores. Já existem alguns no Brasil, mas ainda são poucos.

O recondicionamento de computadores antigos poderia ser uma excelente fonte de suprimentos para as escolas. Também devemos rever as cadeias de produção e não apenas focar na eficiência da composição do produto, mas na sua decomposição, ou seja, a partir do produto descartado, como reaproveitar seus componentes?

Esta decomposição implica em analisar o ciclo de vida do produto ao contrário, começando com as questões relativas a seu descarte e reutilização e depois olhando a redistribuição destes produtos pela cadeia de reciclagem e seu reaproveitamento em outras linhas de produção. Este novo conceito poderia mudar o modelo empresarial atual, diminuindo as pressões para o contínuo lançamento de novos produtos, que geralmente são produzidos com diferenças quase que “cosméticas”.

Produtos eletrônicos poderiam ser atualizados por kits de modernização e modificações no seu software embarcado, diminuindo a ênfase na aquisição de novos aparelhos. Esta mudança conceitual obrigaria a indústria a se redesenhar, saindo do modelo de negócios direcionado por produto para um modelo baseado em serviços. Para isso acontecer é provável que novos atores apareçam, como empresas que focadas no gerenciamento do ciclo de vida dos produtos e que também fariam as atividades de redistribuição dos itens descartados.

Diversas empresas já estão intensamente envolvidas com a questão de meio ambiente e sustentabilidade. A IBM, por exemplo, propôs, durante recente fórum ambiental realizado em Londres, uma espécie de protocolo de Kioto só para a indústria de tecnologia, uma vez que estima-se que pelo menos 2% do gás carbônico emitido no mundo é de responsabilidade da indústria de TI. Quanto mais as empresas se reunirem em seus grupos industriais para definir metas de redução no consumo de energia e emissão de poluentes nas suas cadeias produtivas, maior será o efeito dessa força tarefa para o nosso planeta.

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