quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Terra é redonda!

No ano de 1883, em Roma, cientistas de praticamente todo o mundo reuniram-se em conferência. Apesar da fama de loucos que eles têm, desde os primórdios, nesse encontro concordaram, sem admoestações ou antíteses, que o globo terrestre precisava ser demarcado em fusos, definindo um tempo real para as nações.

No ano seguinte, outra conferência mundial, esta em Washington, nos Estados Unidos, quando 41 delegados representando 25 nações estabeleceram que o meridiano de Greenwich (nome de uma localidade nos arredores de Londres), instituído pelo matemático e astrônomo George Biddell Airy, em 1851, seria usado como meridiano central, dividindo a Terra em Ocidente e Oriente.

A padronização do horário mundial surgiu para facilitar o cotidiano das pessoas e em respeito a todas as formas de vida do planeta, de acordo com o Ritmo Circadiano, mais conhecido como relógio biológico, que são os ciclos que regulam o organismo durante o dia e à noite, segundo a cronobiologia, que é a ciência que os estuda.

Ou seja, os fusos foram criados diante do magnífico espetáculo realizado com o movimento de rotação da Terra, quando da escuridão faz-se a luz e também da luz um mergulho na escuridão, e na luz..., e na escuridão..., e na luz...

Em 1913 foram definidos quatro fusos horários para o Brasil. E 95 anos depois de oficializados, surge a primeira mudança, em 2008. Ficaram três horários diferentes, com a publicação da lei 11.662 que reduz em uma hora o fuso do Acre, e parte do Amazonas, em relação ao horário de Brasília. A lei mal nasceu e já está gerando conflitos políticos, polêmica junto à população local e começa a surgir movimento pela sua revogação.

No embalo da aprovação da lei que teve origem em proposição do senador Tião Viana (AC), e mais de cem anos depois da conferência mundial de Roma, três parlamentares da região Centro-Oeste se alevantam contra a diferença de uma hora de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul com relação à hora oficial de Brasília. São eles os senadores Delcídio Amaral (MS), Jayme Campos (MT), e o deputado federal Wellington Fagundes (MT). Os três, na verdade, tiraram do túmulo proposta apresentada pelo então senador Júlio Campos (MT), em 1991.

Os argumentos comuns são os prejuízos que a diferença de uma hora para o centro do poder (Brasília), e das transações comerciais e operações do mercado financeiro (São Paulo e Rio de Janeiro), proporciona aos dois estados. Além do que, a mudança adaptaria a grade de programação às emissoras de televisão. Entendem, ainda, que a unificação dos horários geraria mais conforto para as comunidades.

O senador Jayme, que subscreveu o projeto de lei do senador Delcídio, defende que a proposta poderia ser levada a plebiscito, enquanto Delcídio acha que não. E nem deve. A opinião do povo de uma localidade não pode interferir naquilo que nasceu de uma convenção mundial e da necessidade da vida. Ainda mais quando essa opinião pode ser influenciada por interesses políticos. Aí é que a voz do povo não é a voz de Deus, mesmo! O embasamento precisa ser científico. Não é a mesma coisa que plebiscito para mudar nome de rua ou de cidade.

Toninho Ruiz, um cidadão sul-mato-grossense questiona, em artigo na Internet: a quem interessa mudar e quais as consequências? Para colocar em dúvida as alegações sobre perdas no mercado financeiro, Ruiz cita como exemplo a Califórnia, que é o estado mais rico dos Estados Unidos, localizado na costa oeste, e tem três horas “atrasadas” em relação à costa leste do país, onde estão as principais bolsas de valores.

Caso houvesse uma real necessidade de igualar os horários de MT e MS ao de Brasília, o governo federal já teria providenciado a alteração com a proposta de Júlio Campos, há quase 20 anos. Hoje mesmo é que ela não se justifica, com a globalização que avança e a expansão das representações comerciais e financeiras com operações on-line. É a plena era da revolução na tecnologia da informática, com a rede mundial de computadores, telefonia móvel, TV a cabo, teleconferências e a modernização e ampliação do transporte aéreo em todo o mundo.



* ARLINDO TEIXEIRA Jr. é jornalista

arlindotj@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!