ENTREVISTA Mohan Munasinghe | |
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QUEM É Nascido em 1945 no Sri Lanka, mudou-se para os Estados Unidos, para estudar, em 1967. Tem pós-graduação em Física, Engenharia e Economia O QUE FAZ É vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Há 30 anos dá consultoria sobre desenvolvimento sustentável e políticas ambientais O QUE PUBLICOU É autor de centenas de artigos acadêmicos e de mais de 50 livros sobre o meio ambiente |
O que o senhor acha da internacionalização da Amazônia? Alguns políticos e cientistas afirmam que isso poderia evitar o desmatamento. Como as nações que desmataram todas as suas áreas verdes querem agora impedir a degradação?
Fernanda Argoud, Florianópolis, SC
Mohan Munasinghe – Cada nação deve olhar, primeiro, para seus recursos naturais. Porém, como a Amazônia – com sua biodiversidade e sua riqueza vegetal – presta um serviço para todos os cidadãos do mundo, pode ser adequado que as pessoas de outros países contribuam para sua proteção.
Qual é sua opinião sobre o ex-vice-presidente Al Gore ter ganho o Prêmio Nobel da Paz ao lado do IPCC?
Emerson Cardoso, Nova Iguaçu, RJ
Munasinghe – O Prêmio Nobel considerou tanto o trabalho científico quanto a disseminação desse conhecimento. Ele reconheceu o trabalho do IPCC em reunir os estudos científicos e os esforços do ex-vice-presidente Al Gore em explicar, de maneira eficiente, a ciência para pessoas comuns.
Com as estimativas do IPCC quanto ao aquecimento global, qual é a probabilidade de o mundo deixar de ser o que é hoje? Há alguma chance de reverter o processo?
Daniel Gomes F. Miranda, Fortaleza, CE
Munasinghe – Baseando-se na tendência atual de emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global, no ano 2100 a temperatura média do planeta será 3 graus Celsius mais alta, e o nível dos oceanos terá subido cerca de 40 centímetros. Mesmo que todas as emissões sejam completamente interrompidas imediatamente, a temperatura mundial será 1,5 grau Celsius mais quente por causa dos gases poluentes já presentes na atmosfera. Muitas pessoas – inclusive da União Européia – acreditam que um aumento de 2 graus Celsius é o limite do perigo, e que precisamos reduzir em 40% as emissões atuais até o ano de 2050.
É possível elaborar uma “agenda verde” que concilie o desenvolvimento econômico e social com o equilíbrio ambiental?
Maurilho da Costa Silva, Rio Branco, AC
Munasinghe – Sim. Uma inédita e inovadora abordagem chamada de sustainomics (uma mistura, em inglês, das palavras “economia” e “sustentável”) mostra que já temos conhecimento suficiente para começar a fazer o desenvolvimento mais sustentável a partir de agora. Nós precisamos manter um equilíbrio entre os benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Por que os Estados Unidos relutam em participar de reuniões globais ou agendas mundiais em que são discutidos o aquecimento global e as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera?
Alberto Vieira de Souza, São Paulo, SP
Munasinghe – Os líderes americanos sentem que cortar a emissão de gases poderá ter um efeito negativo em seu padrão de vida. Contudo, muitos especialistas, cidadãos comuns e governantes de Estados e cidades acreditam que o país deve tomar agora uma atitude para conter o aquecimento global.
Qual é sua opinião sobre o grupo de cientistas que afirmam que o aquecimento global não é um problema tão grave como o anunciado?
Gentil Oliveira Silva, Uberlândia, MG
Munasinghe – Apenas um grupo muito pequeno – e decrescente – de pessoas não considera o aquecimento global um problema.
O senhor acha que a adesão ao vegetarianismo poderia ajudar no combate ao aquecimento global?
Heitor F. Oliveira Jr., São Paulo, SP
Munasinghe – A criação de gado usa muitos recursos – como terra e água – e pode contribuir para o aumento da emissão de gases que causam o aquecimento do planeta. Portanto, um consumo menor de carne vermelha poderia diminuir o impacto sobre o meio ambiente.
Que evolução o senhor prevê para o transporte diante da necessidade de evitar o uso de combustíveis fósseis?
Alexandre Meirelles, Belo Horizonte, MG
Munasinghe – Os meios de transporte estão se tornando cada vez mais eficientes e usando menos combustíveis fósseis, como o petróleo e seus derivados. Para o futuro, os especialistas acreditam que os veículos movidos à base de hidrogênio serão uma importante solução.
O que o senhor acha do incentivo à produção de biocombustível e de etanol?
Anaiá Arraes, Rio Claro, SP
Munasinghe – O etanol produzido a partir da cana-de-açúcar não compete diretamente com a produção de comida. Mas outras formas de produção de álcool – a partir do milho, por exemplo – e de biocombustíveis podem reduzir a terra disponível para a plantação de alimentos para as populações mais pobres.
O senhor acha que os gastos atuais para barrar o aquecimento global são suficientes?
Rodrigo Braga, São Paulo, SP
Munasinghe – Certamente não. Há uma necessidade urgente de aumentar os gastos com a contenção do aquecimento global especialmente por parte dos países ricos, causadores do problema.
As razões do aquecimento e suas conseqüências já são conhecidas por todos. O que deve ser feito já? Existe algo que o cidadão comum, e não os governantes, possa fazer?
Celso Heladio, São Paulo, SP
Munasinghe – Reduzir o consumo de energia e plantar árvores são medidas simples, mas eficientes, que estão ao alcance de todos. Nós podemos também nos mobilizar e trabalhar juntos para pressionar os líderes a tomar as medidas necessárias quanto antes.
O documentário The Great Global Warming Swindle (O Grande Embuste do Aquecimento Global) traz duras críticas ao IPCC. Qual é sua posição sobre essas críticas?
André Luiz Neves da Silva, Valinhos, SP
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