terça-feira, 26 de maio de 2009

Cuiabá – lixo por toda parte


Toda cidade tem seus problemas de salubridade. Com a nossa capital não poderia ser diferente. Um caminhante, mesmo desatento, irá perceber que Cuiabá recebe uma enorme quantidade de lixo lançado em locais impróprios. Esses rejeitos variam tanto em volume quanto em toxidade: bitucas de cigarro, lâmpadas, isopores, fragmentos de metais, plásticos, pilhas, madeira, pneus, material orgânico, móveis velhos, peças eletro-eletrônicos, restos de demolição (tintas, cimento) óleo doméstico e industrial. Geralmente, toda essa sujeira é lançada em rios, remanescentes de áreas verdes e em terrenos baldios.

Por que alguns habitantes não colaboram para zelar pela limpeza da cidade? Estabelecer associações entre a sujeira da cidade e a atitude dos porcalhões é uma tarefa bem complexa. Entretanto, alguns motivos podem ser bons indicadores: (1) há um custo próximo de zero para quem suja; (2) baixíssima probabilidade de punição; (3) despreparo de políticas urbanas e (4) uma estranha arrogância humana que não reconhece mais seus vínculos com a natureza.

É comum presenciarmos entulhos originados de pequenas reformas, quando o correto seria a opção de descarte através de armazenamento e transporte em caçambas. Cenas cotidianas insultantes são aquelas em que ocupantes de veículos ou mesmo pedestres atiram objetos nas ruas. O fato é: na cidade há sempre alguém se livrando do lixo depositando-o no território vizinho. Todo esse material, além do problema estético e insalubre, acaba sendo drenado para os rios, e nesse ponto o custo deixa de ser zero, já que usuários pagam por produtos químicos utilizados na potabilização hídrica.

Seria difícil aplicar multas aos indivíduos indiferentes aos hábitos de limpeza. Na verdade, algo quase bizarro, pois natural é a adoção do ato civilizado de higiene como o repertório primordial de boas maneiras, o que inclui respeito aos demais e reverência à natureza. Ações cooperativas, por outro lado, são reforçadas quando os habitantes reconhecem nos órgãos municipais a capacidade de criar e (co)financiar projetos que coletem e destinem de forma mais segura o colossal volume de lixo derivado do consumo e da produção. Nesse campo, há vastas possibilidades, cada qual com suas limitações, benefícios e custos associados.

O lixo que produzimos já é em quantidade muito superior ao que a natureza consegue dispersar. Mesmo com coleta seletiva, reaproveitamentos e destinação em local apropriado, a natureza não está ilesa aos nossos artefatos químicos. Se considerarmos o aterro sanitário como alternativa para destinação menos danosa ao meio ambiente, isso requer uma engenhosa organização prévia como, reciclagem de plásticos, papéis, vidros e alumínio. Essa seleção depende, sobretudo, de motivações econômicas.

Em tese, quanto maior a taxa de reaproveitamento, menores serão as extrações da natureza e menor também o impacto degenerativo que substâncias residuais causarão à rarefeita ecologia urbana. De um modo geral, para a maioria dos casos, o ambiente urbano revela uma dissociação entre homem e natureza, quando o esperado seria a restauração desse laço vital.



* PAULO CÉZAR DE SOUZA é gestor governamental e mestre em Economia pela UFMT

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