domingo, 24 de maio de 2009

Ecodesigner brasileira faz moda pensando no futuro



Divulgação
Modelo posa com look de Renata Campos feito com lona e borracha de pneu


Um estudo divulgado pela organização não governamental World Wildlife Fund, a WWF, no final de 2008, revela que o atual padrão de consumo de recursos naturais pela humanidade supera em 30% a capacidade do planeta de recuperá-los. Desta maneira, se o homem continuar a explorar a natureza sem dar tempo para que ela se restabeleça, em 2030 serão necessários recursos equivalentes a dois planetas Terra para atender à humanidade.

» Veja peças com material reciclado
» Chat: tecle sobre o assunto

O debate em torno do paradoxo entre consumo e preservação dos recursos naturais virou moda em diversos segmentos da sociedade. E, no universo fashion não poderia ser diferente. Neste contexto, nasceu o termo ecodesign, essencialmente futurista, com o objetivo de preservar o planeta para as gerações futuras. O conceito, que vem ganhando cada dia mais espaço nos ateliês e nas mentes de fashionistas na Europa, já desembarcou em terras tupiniquins e está sendo assediado para pegar o caminho de volta, rumo às feiras e eventos que divulgam a tendência ecologicamente correta entre os europeus.

A ecodesginer brasileira Renata Campos é uma das fashionistas da nova geração que tem os olhos voltados para o futuro. "Vejo que a câmara de ar pode substituir o couro em diversos casos. Cada peça é exclusiva e feita uma a uma, artesanalmente e 100% ecológica, uma vez que são utilizados produtos biodegradáveis para a recuperação das câmaras de ar e não é necessária, sequer, energia elétrica para a confecção dos artigos. Eu acredito que desta forma, contribuo com a conscientização deste tema tão sério e tão urgente que é a reciclagem."

Renata, na grife que leva seu nome, desenvolve bolsas, carteiras, cintos, brincos, tiaras, nécessaire, entre outras peças extremamente criativas com acabamentos nobres utilizando câmaras de ar de pneus de caminhão, ônibus e trator no lugar do couro.

A tendência "do lixo ao luxo", como ela mesmo gosta de definir seu trabalho, ficará exposta em junho, o Mês do Meio Ambiente, na estação São Bento do Metrô na capital paulista e deve chegar, em breve, aos ateliês franceses. "Recebemos um convite para participar de uma feira em Versalhes. Ainda estamos em negociação, mas a troca de experiência com os europeus, que já têm uma consciência maior do problema, será magnífica", ressalta a ecodesigner que concedeu entrevista exclusiva ao Terra.

Terra - Como e quando você descobriu a moda?
Renata Campos - Nasci em Limeira, interior paulista, e desde os meus sete anos me lembro que brincava de customizar minhas roupas. Sempre tive uma forma diferenciada de me vestir. Fazia sobreposições, composições não convencionais, sem sentir-me incomodada com as críticas que, certamente, recebia.

Terra - Qual sua formação? Conte-nos um pouco sobre sua trajetória até chegar ao mundo da moda.
RC - Sou bacharel em Publicidade e Propaganda, mas já fiz de tudo nesta vida. Fui babá e bailarina em Nova Iorque, professora de inglês em Trancoso, na Bahia, já trabalhei na área de Propaganda e também já fiz muito flair (malabarismo com garrafas) quando era bartender no TGI Fridays, em Campinas, no interior de São Paulo.

Em 2004 montei um atelier de costura. Atualmente trabalhamos em dois segmentos: "Renata Campos - Criação e Costura" e "Renata Campos - Design Sustentável". O primeiro consiste na prestação de serviço focado nas roupas sob medida, reformas e reparos em geral. Estabelecemos algumas parcerias com boutiques e, com horário marcado previamente, nos deslocamos até as lojas para acompanhar as provas das roupas, identificando assim, a necessidade do cliente. Já o segundo seguimento, trata-se exclusivamente da criação e confeccção de acessórios de moda a partir de câmara de ar reutilizada. Transformamos o lixo em luxo!

Terra - Como você descobriu a moda com materiais reciclados?
RC - Penso que não estamos aqui a "turismo" e temos que, de alguma forma, deixar nossa contribuição para este planeta que nos abriga. O mercado está saturado e praticamente, não há mais o que inventar. Sendo assim, vi na câmara de ar uma similariedade com o couro e apostei nesta matéria-prima, que acabou sendo meu maior apelo.

Terra - Como é o processo de criação da marca?
RC - Naturalmente sou muito observadora. Depois de ter estudado Comunicação Social, creio que isso intensificou-se. A estética das formas, das cores, me atraem. Às vezes observo uma construção, a natureza, ou qualquer outro tipo de objeto e me inspiro. Minhas peças também têm que ter conteúdo, história.

Terra - Você acredita que a reciclagem de materiais deve virar uma tendência na moda? Por quê?
RC - Tenho certeza! Atualmente a questão da reciclagem é uma realidade urgente que, sem dúvida, deve ser explorada pela moda. Temos exemplos atuais de sucesso, como é o caso da Gooc que produz sandálias com solado de pneu reutilizado. Aliás, estaremos trabalhando juntos num projeto de customização das sandálias com outros materiais reciclados. Como dizia a minha avó: "A Dona Necessidade ensina e estimula!".

Terra - Como está sendo a procura por seus produtos? Sentiu alguma resistência de consumo por usar materiais reciclados nas roupas?
RC - Atualmente tenho uma parceria com a Ces't Jolie, que é uma importadora de acessórios de cabelo. Produzo exclusivamente para ela, que abraçou a idéia, está ampliando a gama de acessórios de moda e abrindo mercados tanto aqui no Brasil, como no exterior. As pessoas, em geral, estão bem abertas a novidades, mas ainda assim, às vezes, sinto um certo receio por parte do público. Creio, que como tudo, é questão de tempo!

Terra - Quais são seus planos futuros para a marca Renata Campos?
RC - Quero que Renata Campos seja um referencial da moda, com diversos setores: um setor de figurinos e fantasias, outro de "roupa express" (roupa sob medida em 24 horas), tingimento, customização, pesquisa de novos materiais sem deixar de lado os que já existem. Estamos em negocição com a Europa e o Oriente também para expandir este conceito genuinamente brasileiro.
Redação Terra

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!