quinta-feira, 22 de abril de 2010

'Belo Monte agora tem risco político'

Entrevista Edmar Almeida. Professor da UFRJ

22 de abril de 2010 | 0h 00
Nicola Pamplona do Rio - O Estado de S.Paulo
Pressões sobre a área ambiental, apoio da Advocacia Geral da União (AGU) para cassar liminares, participação ostensiva da Eletrobrás na formação de consórcios: para o especialista em energia Edmar Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, a atuação do governo foi fundamental para garantir o leilão de Belo Monte. Para ele, essa atitude terá de ser mantida para garantir o bom andamento das obras. Em entrevista ao Estado, ele diz que o principal risco, agora, é político.
Dá para fazer a obra com a tarifa vencedora do leilão?
A questão mais difícil hoje é saber qual o custo dessa usina. São tantos fatores imponderáveis, que é muito difícil alguém dizer se dá ou não dá. Em um projeto como esses, há variáveis de risco com elevado grau de certeza e outras que você tem que adotar hipóteses. Nessas que têm grau de certeza, como custo da mão de obra, da obra civil, as propostas se baseiam em números parecidos. O que pode fazer diferença são as hipóteses que cada uma adota quanto àquelas parcelas que são incertas. Se um é menos conservador do que o outro, tem mais chance de levar.
O grupo vencedor não tem empresas reconhecidas em projetos desse porte. Isso aumenta o risco?
A obra é muito desafiadora, seria arriscada para qualquer um dos consórcios. A Queiroz Galvão é uma construtora grande, que está habituada a fazer obras grandes. Não vejo porque o outro consórcio teria risco substancialmente menor. É um projeto que vai enfrentar ainda muita oposição do ponto de vista ambiental, vai ter muito fator que vai jogar contra. Agora o fator principal para reduzir esse risco é o fato de o governo estar tomando isso como uma obra prioritária. Quem contribui para reduzir ou não o risco é a postura do governo em adotar essa obra como uma obra prioritária.
A qual postura o sr. se refere?
Essa obra tem que ser encarada com obra estratégica para o País. Se não tiver esse tipo de visão, tem muito risco de enfrentar problemas com questão ambiental, liminares na Justiça... Precisa realmente ter uma força no sentido de viabilizar, ter o governo ao seu lado, para tentar levar a obra adiante nos diferentes órgãos que vão dar a licença, fiscalizar. Se o governo não for muito voluntarioso, dada a complexidade da obra, existe o risco de atrasos, que podem realmente afetar as tarifas e inviabilizar a obra. Eu vejo com principal risco o risco político. Esse governo está totalmente empenhado, mas temos uma eleição. Se essa postura continuar, a obra vai adiantar. Se mudar a postura do governo, pode-se ter um problema.
A usina é mesmo essencial?
Eu acho que é fundamental para o Brasil porque define o aproveitamento futuro do potencial hidrelétrico da Amazônia. Se ela não sair, não tem como justificar as outras usinas da região. Belo Monte está na frente das outras justamente porque é um aproveitamento bom. A relação área inundada por kWh gerado é baixo e gera muita energia com relação ao custo da obra. É economicamente muito interessante para os consumidores. Se for inviabilizada, no momento em que aparecer uma hidrelétrica de R$ 90, R$ 100 por MWh, vai ser muito difícil viabilizar. Minha visão é que a discussão de Belo Monte não é apenas sobre Belo Monte, é sobre a Amazônia. Eu acho que o Brasil precisa desenvolver o potencial energético da Amazônia, porque o Brasil precisa da Amazônia e a Amazônia precisa encontrar uma trajetória de desenvolvimento econômico.

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