Por: http://colunas.galileu.globo.com/verdadeinconveniente/
“Tenho a impressão de que todos os políticos só fazem cena em relação às atitudes ambientais. Ninguém faz nada de verdade”, diz Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, especialista em meio ambiente do Departamento de Economia e Sociologia do ESALQ. Clichê à parte, a afirmação tem respaldo na realidade. Há governantes com discurso sustentável e figuras importantes do ativismo ambiental que não cuidam muito bem do quintal. Verdade Inconveniente faz um post diferente nesta semana: em vez de produtos, listamos alguns desses líderes que não fazem jus aos discursos em prol do meio ambiente. Eles provam, na prática, outro clichê: é fácil falar, difícil é fazer.
A Austrália é o terceiro maior emissor de carbono per capita do mundo, com 19,06 toneladas de CO2 por pessoa em um ano, segundo o Instituto Potsdam para Pesquisas do Impacto Climático. Em 2008, Kevin Rudd foi empossado como primeiro-ministro do país, após uma campanha com discurso focado em atitudes para reverter a situação ambiental. A promessa era de unir o mundo em torno da questão do aquecimento global, conforme disse ao jornal Sydney Herald, em reportagem de 2007: “A razão para a Austrália mudar a sua política é a nossa crença de que o planeta está agora sob a ameaça cada vez mais significativa e que, portanto, a necessidade de cooperação global já não é opcional, é urgente”.
A proposta era reduzir as emissões de carbono australianas em 25% em comparação aos níveis de 2000 até 2020, fazendo com que os poluidores industriais passassem a comprar licenças para emitir poluentes. O problema é que o plano, que começaria em julho de 2011, foi adiado pelo próprio Rudd, que preferiu esperar o Protocolo de Kyoto (acordo de redução entre vários países, que entrou em vigor em 2005) expirar, em 2012. “Estou certo de que é melhor esperar para implementar isso”, afirmou em abril deste ano, temendo reações negativas da população australiana, que estava com medo de um possível aumento de impostos com a nova política. A necessidade em deter a ameaça ao clima, ao que parece, não era tão urgente.
Barack Obama – presidente dos EUA
Durante sua candidatura em 2008, Obama prometeu realizar uma série de medidas para reduzir os níveis de poluição causados pelos Estados Unidos, classificando a mudança climática “de desafio urgente”. Uma das medidas prometidas era o corte de emissões do país para que elas voltassem aos índices de 1990 até 2020. Logo após ser eleito, disparou um vídeo sobre o tema. “É hora de confrontar isso de uma vez por todas, o atraso não é mais uma opção. Eu prometo, quando for presidente, que qualquer nação que quiser combater a mudança climática terá um aliado nos Estados Unidos da América”.
Não foi o que pareceu na 15ª Conferência do Clima da ONU (COP15), que ocorreu em dezembro do ano passado. O maior encontro diplomático da história tinha como objetivo estabelecer o compromisso de redução em 50% das emissões mundiais de CO2 até 2050. O presidente norte-americano só chegou no último dia das reuniões, e afirmou que os Estados Unidos cortariam 17% de suas emissões até 2020 – índice 5,5% inferior à sua promessa de campanha relacionada aos números de 1990, segundo o jornal Washington Post. E a proposta ainda sequer foi aprovada no senado norte-americano.
Em maio deste ano, o jornal alemão Der Spiegel publicou detalhes inéditos de uma conversa entre os líderes mundiais durante a COP15, e afirmou que Obama “apunhalou os europeus pelas costas”. Os líderes da Alemanha, França e Inglaterra eram os mais empenhados em agir, mas o presidente norte-americano esfriou tudo em um discurso de 3 minutos, pedindo para o acordo das reduções ser feito mais tarde. “Vamos tentar alguma resolução fora deste acordo multilateral”, afirmou. De carta fora do baralho, o atraso, por conta dos EUA, passou a ser a única opção.
Stephen Harper – premiê do Canadá
Em 2006, o primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper fez com que o país fosse o primeiro a abandonar o protocolo de Kyoto após ratificá-lo. Entre 1990 a 2012, os canadenses deveriam reduzir suas emissões em 6% – em vez disso, caminhavam para um aumento de 26%. As críticas diminuíram por causa de uma meta colocada em prática pelo próprio Harper. O plano, que começou em 2007, previa a redução das emissões em 20% de acordo com os níveis de 2006.
Em fevereiro deste ano, Harper voltou atrás novamente. Seu ministro do meio ambiente, Jim Prentice, anunciou que o Canadá decidiu reduzir suas emissões de CO2 em 17% em comparação aos níveis de 2005 até 2020 – mesmos números dos Estados Unidos. A oposição não perdoou. O líder do partido Liberal, Michael Ignatieff, disse que o governo anunciou a medida desastrosa de propósito em um sábado à tarde. “É dia de hóquei no Canadá. Eles torcem para que os canadenses não percebam isso porque estão preocupados com outra coisa”, afirmou ao jornal local The Globe and Mail.
Presidente do IPCC
O cientista indiano Rajendra Pachauri é presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), da ONU. Ele e Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, dividiram um prêmio Nobel da Paz em 2007 pelo seu trabalho para divulgar as mudanças climáticas causadas pelo homem. Mas o jornal britânico Daily Mail o deixou em maus lençóis. A publicação fez uma reportagem acusando Pachauri de usar um carro de luxo para ir até seu escritório, a 1,6 quilômetro de sua casa em Nova Déli, na Índia – sendo que um dos institutos que ele coordena pede para as pessoas usarem transporte público para reduzir a poluição mundial. Ainda segundo o Daily Mail, o cientista ganhou quatro carros elétricos de uma montadora indiana e não os usa por serem “pequenos”.
Até tu, Al Gore?
Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, não conseguiu vencer a eleição contra George Bush em 2000 e passou a se dedicar à causa verde. Ele idealizou o documentário Uma Verdade Inconveniente (2006), sobre mudanças climáticas, que lhe rendeu o Nobel da Paz com Rajendra Pachauri um ano depois, e 21 prêmios (entre eles dois Oscars). Atualmente, dá palestras de conscientização sobre o aquecimento global pelo mundo afora. Não foi suficiente para deixar sua reputação intocável. Em 2007, descobriram que a mansão de Gore em Nashville, no Tennessee, poluía 20 vezes mais do que uma casa comum norte-americana. As críticas diminuíram ao passo em que ele fez uma enorme reforma para “esverdear” a mansão, em dois anos. Mas a pegada de carbono continuou gigantesca: no começo deste ano, o ativista comprou uma vila de quase US$ 9 milhões que não tem eficiência verde. Confira fotos neste link.
“Tenho a impressão de que todos os políticos só fazem cena em relação às atitudes ambientais. Ninguém faz nada de verdade”, diz Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, especialista em meio ambiente do Departamento de Economia e Sociologia do ESALQ. Clichê à parte, a afirmação tem respaldo na realidade. Há governantes com discurso sustentável e figuras importantes do ativismo ambiental que não cuidam muito bem do quintal. Verdade Inconveniente faz um post diferente nesta semana: em vez de produtos, listamos alguns desses líderes que não fazem jus aos discursos em prol do meio ambiente. Eles provam, na prática, outro clichê: é fácil falar, difícil é fazer.
A Austrália é o terceiro maior emissor de carbono per capita do mundo, com 19,06 toneladas de CO2 por pessoa em um ano, segundo o Instituto Potsdam para Pesquisas do Impacto Climático. Em 2008, Kevin Rudd foi empossado como primeiro-ministro do país, após uma campanha com discurso focado em atitudes para reverter a situação ambiental. A promessa era de unir o mundo em torno da questão do aquecimento global, conforme disse ao jornal Sydney Herald, em reportagem de 2007: “A razão para a Austrália mudar a sua política é a nossa crença de que o planeta está agora sob a ameaça cada vez mais significativa e que, portanto, a necessidade de cooperação global já não é opcional, é urgente”.
A proposta era reduzir as emissões de carbono australianas em 25% em comparação aos níveis de 2000 até 2020, fazendo com que os poluidores industriais passassem a comprar licenças para emitir poluentes. O problema é que o plano, que começaria em julho de 2011, foi adiado pelo próprio Rudd, que preferiu esperar o Protocolo de Kyoto (acordo de redução entre vários países, que entrou em vigor em 2005) expirar, em 2012. “Estou certo de que é melhor esperar para implementar isso”, afirmou em abril deste ano, temendo reações negativas da população australiana, que estava com medo de um possível aumento de impostos com a nova política. A necessidade em deter a ameaça ao clima, ao que parece, não era tão urgente.
Barack Obama – presidente dos EUA
Durante sua candidatura em 2008, Obama prometeu realizar uma série de medidas para reduzir os níveis de poluição causados pelos Estados Unidos, classificando a mudança climática “de desafio urgente”. Uma das medidas prometidas era o corte de emissões do país para que elas voltassem aos índices de 1990 até 2020. Logo após ser eleito, disparou um vídeo sobre o tema. “É hora de confrontar isso de uma vez por todas, o atraso não é mais uma opção. Eu prometo, quando for presidente, que qualquer nação que quiser combater a mudança climática terá um aliado nos Estados Unidos da América”.
Não foi o que pareceu na 15ª Conferência do Clima da ONU (COP15), que ocorreu em dezembro do ano passado. O maior encontro diplomático da história tinha como objetivo estabelecer o compromisso de redução em 50% das emissões mundiais de CO2 até 2050. O presidente norte-americano só chegou no último dia das reuniões, e afirmou que os Estados Unidos cortariam 17% de suas emissões até 2020 – índice 5,5% inferior à sua promessa de campanha relacionada aos números de 1990, segundo o jornal Washington Post. E a proposta ainda sequer foi aprovada no senado norte-americano.
Em maio deste ano, o jornal alemão Der Spiegel publicou detalhes inéditos de uma conversa entre os líderes mundiais durante a COP15, e afirmou que Obama “apunhalou os europeus pelas costas”. Os líderes da Alemanha, França e Inglaterra eram os mais empenhados em agir, mas o presidente norte-americano esfriou tudo em um discurso de 3 minutos, pedindo para o acordo das reduções ser feito mais tarde. “Vamos tentar alguma resolução fora deste acordo multilateral”, afirmou. De carta fora do baralho, o atraso, por conta dos EUA, passou a ser a única opção.
Stephen Harper – premiê do Canadá
Em 2006, o primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper fez com que o país fosse o primeiro a abandonar o protocolo de Kyoto após ratificá-lo. Entre 1990 a 2012, os canadenses deveriam reduzir suas emissões em 6% – em vez disso, caminhavam para um aumento de 26%. As críticas diminuíram por causa de uma meta colocada em prática pelo próprio Harper. O plano, que começou em 2007, previa a redução das emissões em 20% de acordo com os níveis de 2006.
Em fevereiro deste ano, Harper voltou atrás novamente. Seu ministro do meio ambiente, Jim Prentice, anunciou que o Canadá decidiu reduzir suas emissões de CO2 em 17% em comparação aos níveis de 2005 até 2020 – mesmos números dos Estados Unidos. A oposição não perdoou. O líder do partido Liberal, Michael Ignatieff, disse que o governo anunciou a medida desastrosa de propósito em um sábado à tarde. “É dia de hóquei no Canadá. Eles torcem para que os canadenses não percebam isso porque estão preocupados com outra coisa”, afirmou ao jornal local The Globe and Mail.
Presidente do IPCC
O cientista indiano Rajendra Pachauri é presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), da ONU. Ele e Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, dividiram um prêmio Nobel da Paz em 2007 pelo seu trabalho para divulgar as mudanças climáticas causadas pelo homem. Mas o jornal britânico Daily Mail o deixou em maus lençóis. A publicação fez uma reportagem acusando Pachauri de usar um carro de luxo para ir até seu escritório, a 1,6 quilômetro de sua casa em Nova Déli, na Índia – sendo que um dos institutos que ele coordena pede para as pessoas usarem transporte público para reduzir a poluição mundial. Ainda segundo o Daily Mail, o cientista ganhou quatro carros elétricos de uma montadora indiana e não os usa por serem “pequenos”.
Até tu, Al Gore?
Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, não conseguiu vencer a eleição contra George Bush em 2000 e passou a se dedicar à causa verde. Ele idealizou o documentário Uma Verdade Inconveniente (2006), sobre mudanças climáticas, que lhe rendeu o Nobel da Paz com Rajendra Pachauri um ano depois, e 21 prêmios (entre eles dois Oscars). Atualmente, dá palestras de conscientização sobre o aquecimento global pelo mundo afora. Não foi suficiente para deixar sua reputação intocável. Em 2007, descobriram que a mansão de Gore em Nashville, no Tennessee, poluía 20 vezes mais do que uma casa comum norte-americana. As críticas diminuíram ao passo em que ele fez uma enorme reforma para “esverdear” a mansão, em dois anos. Mas a pegada de carbono continuou gigantesca: no começo deste ano, o ativista comprou uma vila de quase US$ 9 milhões que não tem eficiência verde. Confira fotos neste link.
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