DECLARAÇÕES SOBRE A NATUREZA
Em setembro de 1986, em Assis, na Itália, o Fundo para a natureza (WWF) lançou sua "Rede de Conservação e Religião", reunindo líderes ambientais com líderes religiosos, representando Budistas, Cristãos, Hindus, Judeus e Mulçumanos. Cada uma das cinco religiões lá representadas emitiu uma declaração sobre a natureza. Desde então, as religiões bahá’í e Sikh juntaram-se a esta nova aliança e apresentaram suas próprias declarações em apoio aos objetivos da Rede.
No seu discurso de abertura do encontro, o padre Lanfranco Serrini, Ministro Geral dos Franciscanos disse: "Estamos convencidos do inestimável valor das nossas respectivas tradições e daquilo que elas podem oferecer no sentido de restabelecer a harmonia ecológica, mas, ao mesmo tempo, somos suficientemente humildes para desejar aprender uns dos outros. A própria riqueza da nossa diversidade dá força à nossa compartilhada preocupação e responsabilidade pelo nosso Planeta Terra".
Inspirados pelo trabalho que vem sendo desenvolvido pela Rede de Conservação e Religião do WWF em todo o mundo, e pela premência de, também no Brasil, organizar-se os esforços que vem sendo desenvolvidos pelas várias religiões e tradições espirituais na área de conservação ambiental, um grupo destas entidades reuniu-se e formou uma Comissão Transdisciplinar Ecumênica e promoveu o I Seminário das Tradições Espirituais e Meio Ambiente.
Este evento visou abrir o diálogo para que as diferentes tradições espirituais pudessem compartilhar a sua mensagem sobre o tema ambiental, bem como expor e discutir os projetos que vem sendo desenvolvidos nesta área, por cada segmento, de modo a unir esforços pela defesa da causa maior, que é a preservação da Mãe Terra.
Aqui estão reproduzidos trechos das sete declarações religiosas sobre a natureza, declarações estas que afirmam claramente que é nossa responsabilidade - dada por Deus - proteger e preservar aquilo que nos foi dado em confiança e guarda. A crise ambiental que nós enfrentamos hoje precisa, urgentemente, de uma solução que inclua uma dimensão espiritual, pois somente nossos valores e convicções morais podem nos salvar do suicídio ecológico.
Declaração Bahá’í Sobre A Natureza
Comunidade Internacional Bahá’í
Bahá’u’lláh, o profeta fundador da Fé Bahá’í, descreve, em linhas gerais, o relacionamento indispensável entre os homens e o meio ambiente: que o esplendor e a diversidade do mundo humano são reflexos intencionais da majestade e bondade de Deus... o entendimento é implícito, que a natureza deve ser respeitada e protegida, como uma custódia divina pela qual somos responsáveis.
Como a mais recente das revelações de Deus... os ensinamentos bahá’ís têm uma aplicabilidade especial para as circunstancias atuais quando a natureza inteira está ameaçada pelos perigos criados pelo homem...
"O bem estar da humanidade, sua paz e segurança são inatingíveis, a menos e até que a sua unidade esteja firmemente estabelecida", escreveu Bahá’u’lláh. "A terra é um só país e a humanidade seus cidadãos". Os principais temas relacionados com os movimentos ambientais atuais, dependem deste ponto.
O problema de poluição dos oceanos, a extinção das espécies, a chuva ácida e o dematamento... não respeitam quaisquer fronteiras. Todos exigem uma abordagem que transceda as fronteiras nacionais... os escritos religiosos da Fé Bahá’í... contém uma prescrição explícita para o modelo da nova ordem mundial, que oferece a única solução permanente para tais problemas... tal nova ordem deve também, de acordo com os escritos bahá’ís, ser baseada em princípios de justiça econômica, igualdade entre as raças, direitos iguais para homens e mulheres e educação universal.
Todos estes pontos relacionam-se diretamente com qualquer tentativa de proteção do meio ambiente do mundo... Qualquer tentativa para defender a natureza deve, portanto, também voltar-se para as injustiças fundamentais entre ricos e pobres no mundo. Da mesma maneira, a valorização das mulheres para completa igualdade com os homens, pode ajudar a causa ambiental, trazendo um novo espírito de valores femininos para o processo decisório sobre os recursos naturais.
Para os bahá’ís, o objetivo da existência é levar à frente uma civilização em constante desenvolvimento. Tal civilização só pode ser construída numa terra que possa ser auto-sustentada. O compromisso bahá’í com o meio ambiente é fundamental para nossa Fé.
Declaração Cristã Sobre A Natureza
Padre Lanfranco Serrini
Ministro Geral, OFM Conv
Deus declarou que tudo é bom - realmente, muito bom... Mas é especialmente através do homem e da mulher, feitos à imagem e semelhança de Deus e depositários de domínio único sobre todas as criaturas visíveis, que a bondade e providência do Senhor devem ser manifestadas... O domínio do homem não pode ser entendido como licença para abusar, estragar, esbanjar ou destruir aquilo que Deus fez para manifestar Sua glória. Tal domínio tem que ser gerido em simbiose com todas as criaturas... Todo ato humano de irresponsabilidade para com as criaturas é uma abominação. Conforme sua gravidade, é uma ofensa contra aquela sabedoria divina que sustenta e dá propósito à harmonia interdependente do universo.
Os cristãos convocam todos os homens e mulheres a perseguir: - uma síntese entre cultura e fé; - um diálogo ecumênico sobre os objetivos da pesquisa científica e sobre as consequências ambientais do uso das suas descobertas;
- a prioridade de valores morais sobre avanços tecnológicos;
- a verdade, a injustiça e a coexistência pacífica de todos os povos.
Declaração Hindu Sobre A Natureza
Dr. Karam Singh Presidente, Hinfu Virat Smaj
Nas tradições espirituais antigas, o homem era considerado uma parte da natureza, ligada por laços espirituais e psicológicos indissolúveis com os elementos ao seu redor. Isto é um fato marcante na tradição hindu, provavelmente a mais antiga tradição religiosa no mundo...
O hinduísmo acredita na soberania divina, que tudo abarca, e que manifesta-se numa escala progressiva da evolução. Embora atualmente esteja no topo da pirâmide evolucionária, a raça humana não é vista como algo aparte da terra e das suas múltiplas formas de vida...
A tradição hindu de reverência pela natureza e por todas as formas de vida, vegetal ou animal, representa uma tradição poderosa que precisa ser redescoberta e reaplicada em nosso contexto contemporâneo...
Hoje, mister se faz lembrarmo-nos de que a natureza não pode ser destruída sem que também o seja a humanidade... Os efeitos de séculos de voraz exploração do meio ambiente finalmente nos alcançaram, e uma mudança radical de atitude em relação à natureza não é mais uma questão de mérito espiritual ou complacência, mas de pura sobrevivência...
Vamos declarar nossa determinação em parar a atual tendência rumo à destruição, em redescobrir a antiga tradição de reverência pela vida e, mesmo a esta altura, reverter o curso suicida em que embarcamos. Vamos recordar o antigo ditado hindu: "A Terra é nossa mãe, e todos somos seus filhos".
Declaração Mulçumana Sobre A Natureza
Dr. Abbdullah Osmar Nassef
Secretário Geral, Liga Mundial Mulçumana
A essência do ensinamento mulçumano é de que o universo inteiro é a criação de Deus. Para o mulçumano, o papel da humanidade na Terra é o de um califa, vice-regente ou curador de Deus. Somos os fideicomissários e agentes de Deus na Terra. Nós não somos mestres desta Terra; ela não nos pertence para fazermos o que bem quisermos com ela. Pertence a Deus, Ele confiou-a nós, para salvaguardá-la.
Alá é unidade: e Sua Unidade é também refletida na unidade da humanidade, e na unidade do homem e da natureza. Seus curadores são responsáveis pela manutenção da unidade da Sua criação, da integridade da Terra, da sua flora e fauna, da sua vida silvestre e do ambiente natural... Seremos chamados a prestar contas de como trilhamos este caminho, e como mantivemos equilíbrio e harmonia em toda criação ao nosso redor.
Portanto, unidade, curadoria e prestação de contas... os três conceitos centrais do islamismo, são também os pilares da ética ambientalista do islamismo... A conscientização ambientalista ocorre quando tais valores são adotados e se tornam parte intrínseca da nossa constituição mental e física.
Declaração Judaica Sobre A Natureza
Rabino Arthur Hertzberg
Vice-Presidente Congresso Mundial Judaico
A preocupação central do judaísmo é com a vida neste mundo... O judeu exemplar não é um santo pilar alheio ao mundo. Ele é alguém cuja conduta, em meio à própria vida, ajuda a estabelecer o que parece impossível: poder-se viver com retidão, neste mundo, sem transgredir os direitos de outras pessoas, ou de quaisquer das criaturas de Deus.
Assim, o encontro entre Deus e o homem na natureza, é concebido no judaísmo, como uma teia inconsútil, tendo o homem como líder e guardião do mundo natural... Ao homem foi dado o domínio sobre a natureza, mas lhe foi ordenado proceder, para com o resto da criação, com justiça e compaixão. O homem vive, sempre em tensão entre seu poder e os limites estabelecidos pela sua consciência.
Nós temos uma responsabilidade para com a vida, a de defendê-la em todo lugar, não apenas contra nossos pecados, mas também contra os alheios. Somos todos, juntos, passageiros neste mesmo mundo frágil e glorioso. Que salvaguardemos o nosso barco - e que rememos juntos.
Declaração Sikh Sobre A Natureza
A natureza é a manifestação de Deus que permeia toda a existência. O sikhismo acredita que o universo foi criado por um Deus onipotente... Tendo trazido o mundo à existência, Deus o sustenta, nutre e protege. Nada passa despercebido... Para os sikhs, a natureza e o meio ambiente são compostos por cinco elementos. Estes são: ar, água, terra, fogo e espaço... Um equilíbrio entre todos os elementos na natureza é necessário para a continuação do universo. Qualquer rompimento deste equilíbrio causa sofrimento e desastre.
Os Gurus nos têm fortemente conscientizado da nossa responsabilidade para com esta terra, p. ex.: "Você é mestre desta terra e responsável por todas as formas de vida" (Guru Granth Sahib).
Nos últimos anos, esta mensagem tem sido ignorada, pois temos nos tornado egoísta em nosso zelo para adquirir um controle definitivo sobre o nosso meio ambiente, tornando-nos loucos pelo poder e esquecidos de nossa responsabilidade para com os outros, tanto que podemos agora ver a destruição do equilíbrio da natureza. Hoje, o desiquilíbrio está sendo exarcerbado pela nossa corrida alucinada pelo lucro, em detrimento do resto da criação. Devemos estar conscientes do nosso real lugar no universo. O equilíbrio do meio ambiente só pode ser atingido se a conservação planejada de Deus for mantida, através da aderência ao comportamento ético, assim como prescrito nas escrituras sagradas.
Declaração Budista Sobre A Natureza
Venerável Lungrig Namgyal Rinpoche
Abade, Universidade Gyuto Tantric
O budismo é uma religião de amor, compreensão e compaixão, comprometida com o ideal de não violência. Como tal, ela também dá grande importância à vida silvestre e à proteção do meio ambiente, do qual cada ente entre neste mundo depende, para sua sobrevivência.
Considerarmos nossa sobrevivência um direito inalienável. Outras espécies, como co-habitantes deste planeta, também têm este direito à sobrevivência. E desde que os seres humanos, assim como outros entes sensíveis, dependem do meio ambiente como a última fonte de vida e bem-estar, vamos compartilhar a convicção de que a conservação do meio ambiente e restauração do equilíbrio rompido por nossa negligência no passado, devem ser implementados com coragem e determinação.
Sua Santidade, o Dalai Lama
disse: "... Não é difícil entender e suportar a exploração perpetrada no passado por causa da ignorância. Entretanto, agora que estamos conscientes dos fatores perigosos, é muito importante que examinemos nossas responsabilidades e nosso compromisso com valores, e pensemos no tipo de mundo que levaremos às gerações futuras... Há um grande perigo das futuras gerações não conhecerem o habitat natural dos animais; é possível que não venham a conhecer as florestas e os animais que nós, desta geração, sabemos estarem ameaçados de extinção. Nós temos que ter a responsabilidade e a habilidade onde cumprir etapas de ação concreta, antes que seja tarde demais".
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