quarta-feira, 16 de junho de 2010

Peruanos conhecem plantios de seringueiras na Amazônia.


Peruanos14062010aComitiva do país vizinho visita seringais de cultivo da região de Xapuri, no Acre. E defendem cooperação para comercialização da borracha produzida na região
DIVA CONÇALVES
 

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RIO BRANCO, AC – As iniciativas envolvendo o cultivo de seringueira no Acre têm contribuído para integrar o Estado com países vizinhos.  Na semana passada,  uma comitiva composta por membros do Projeto Especial Madre de Dios (PEMD), representantes da Universidade Nacional Amazônica, Instituto Superior Público de Ibéria, Sindicato de Seringueiros, Associação de Extrativistas e outras entidades representativas de Ibéria, além produtores de látex da Província de Tahuamanu (Peru), visitou três municípios acrianos para conhecer experiências bem sucedidas com manejo de seringais e processamento do látex.
A visita é uma atividade do projeto “Fortalecimento de capacidades para o incremento da produção de látex de seringa”, assinado em agosto de 2009, pelos governos do Brasil e Peru, visando à troca de conhecimentos técnicos e tecnologias para desenvolvimento das atividades produtivas na região de fronteira dos dois países. As ações de transferência de tecnologias incluem a capacitação de produtores e técnicos peruanos, além de intercâmbio.
O grupo visitou a fábrica de preservativos masculinos Natex e plantios de seringueira consorciados com cultivos agrícolas, em Xapuri, e áreas de cultivos experimentais e viveiros de produção de mudas nos municípios de Senador Guiomar e Bujari. O produtor Osmar Oliveira abriu as portas da sua propriedade, em Xapuri, para mostrar como vem conduzindo o plantio de 3,6 mil seringueiras, em uma área de 6,5 hectares, consorciado com feijão. “Aposto na cultura da seringueira como uma atividade rentável porque tem mercado garantido. Além dos benefícios econômicos, os plantios possibilitam o reflorestamento e adequação ambiental da área”, diz.
Segundo o pesquisador Rivadalve Gonçalves, que coordenou a visita, há uma tendência crescente na formação de cultivos de seringueira intercalados com grãos, para reduzir os custos de implantação dos plantios. “Estes cultivos representam fonte alternativa de renda para o produtor, em uma mesma área. Até o quarto ano de plantio é possível manter culturas agrícolas ou espécies frutíferas como maracujá, abacaxi e banana nas entrelinhas das árvores, com bons resultados, sem a necessidade de alterar o espaçamento do plantio. Após este período, o sombreamento proporcionado pelas árvores e a competição entre as plantas inviabilizam esta prática”, explica Gonçalves.
A extração do látex de seringueira é a principal fonte de renda de milhares de famílias que habitam a Amazônia brasileira. Como forma de incentivar a produção, o governo vem investindo na implantação de indústrias de processamento de látex e em iniciativas de valorização da produção. No estado do Acre, além da implantação da fábrica de preservativos masculinos, em 2008, que ajudou a organização da cadeia produtiva, beneficiando cerca de 700 famílias de seringueiros, os extrativistas recebem incentivo monetário. Para cada quilo de látex, comercializado a R$ 3, 40, o governo paga R$ l,40 de subsídio ao produtor, totalizando R$ 4,80/quilo.  No Peru o preço do produto equivale a R$ 3,5/quilo e não é subsidiado.
Mercado do látex
Atualmente a produção de borracha brasileira é de 1% em escala mundial, enquanto os países do Sudeste Asiático, especialmente a Malásia, Tailândia e Indonésia concentram 90% da produção mundial. O país importa cerca de 40% da borracha que utiliza, mas a implantação de plantios em Estados da região Sudeste, nos últimos anos, como é o caso de São Paulo, e os investimentos em iniciativas de valorização da produção em outros Estados da federação vêm contribuindo para o aumento da produção e podem mudar este cenário.
A cultura da seringueira tem despertado o interesse de pequenos e grandes produtores no Acre. Paralelamente ao programa governamental de incentivo à produção em pequenas propriedades, existem projetos particulares para implantação de cultivos com foco no reflorestamento em grandes propriedades. Na análise de Gonçalves, o mercado local está se expandindo e abrindo novas perspectivas comerciais, inclusive para a compra da produção de extrativistas do Peru e Bolívia. Isto é positivo porque vai viabilizar o pleno funcionamento das fábricas de Granulados Escuro Brasileiro (Geb). Outro fator importante é que a oferta de matéria-prima por países vizinhos reduz a dependência de importação e fortalece as relações comerciais entre os países.
A produção de látex acriana também vem conquistando o mercado europeu. Há três anos a França compra látex em forma de Folha Líquida Defumada (FLD) de produtores de Assis Brasil. Em 2010 os trabalhadores da floresta firmaram contrato com uma empresa francesa para fornecimento de 10 toneladas do produto para aplicação na fabricação de calçados. Ao contrário do que ocorre no Brasil, o mercado de látex peruano é restrito, os produtores carecem de uma política de incentivo na produção.
“A participação do Estado e o subsídio da produção são fatores fundamentais para a organização dos produtores e desenvolvimento do setor. Paralelamente às ações governamentais, o intercâmbio com o Brasil para acesso a experiências de sucesso e a tecnologias brasileiras podem contribuir para melhorar o processo de extração, conservação e processamento do látex produzido em nosso país”, afirma Francisco Cárdenas, engenheiro agrônomo do PEMD.
Cooperação mútua
A Província de Tahuamanu é o centro de produção de borracha do Peru, com uma produção média estimada de 3 litros de látex//árvore. Segundo Cárdenas, no passado a região foi grande produtora de borracha, entretanto, a presença de atividades produtivas mais rentáveis e dificuldades na atividade extrativista contribuíram para reduzir drasticamente a produção. Hoje, a principal atividade econômica da região é a extração de madeira, mas o governo vem investindo no fortalecimento da agricultura, pecuária, piscicultura e extração de látex e castanha para diversificar a produção.
A cooperação mútua objetiva a troca de experiências e conhecimentos entre instituições de pesquisa e fomento para melhoria destas atividades e da qualidade de vida de produtores na zona de fronteira dos dois países. Na avaliação de Gonçalves, a Embrapa é uma instituição chave na política de integração e fortalecimento das relações internacionais, devido ao conhecimento científico que detém e, neste contexto, o Acre ocupa posição de destaque por fazer fronteira com países estratégicos na logística de exportação.
Além do projeto bilateral com foco na cultura da seringueira, a Embrapa Acre, executa outros dois projetos voltados para o fortalecimento da cadeia produtiva da castanha e desenvolvimento da atividade pesqueira, em parceria com o Projeto Especial Madre de Dios e do Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana (IIAP). As ações são coordenadas pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores, e pela Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa.

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