Por Lygia Haydée, de EXAME.com
Pensar que
investir em sustentabilidade é caro e não traz retorno é um dos mitos do mundo
corporativo
São Paulo – Existem ações sustentáveis
no lugar onde você trabalha?
E você realmente sabe a que elas se
referem ou prefere entender superficialmente o tema, como se ele não estivesse
ligado a você?
Os ganhos
obtidos pelas empresas que investiram em sustentabilidade não se resumem ao
lado social e ambiental, mas também financeiro das companhias, o que
representa vantagem para todos os envolvidos. “A sustentabilidade vai do plano
individual ao macro, que é o empresarial e o social”, explica Paulo
Branco, coordenador do Programa Inovação na Cadeia de Valor do Centro de
Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Porém, muitos dos assuntos
abordados no âmbito corporativo são vistos de forma equivocada,
transformando-se em grandes mitos. “O maior deles é pensar que é possível
crescer de maneira contínua em um mundo que tem recursos finitos”, salienta o
professor. Pensando nisso, EXAME.com elencou os principais erros empresariais
ligados a esse tema e que, muitas vezes, fazem com que boas oportunidades sejam
deixadas de lado.
1. Sustentabilidade custa caro e não traz retorno
É errado pensar
que obrigatoriamente a sustentabilidade é cara e que exige um custo.
Na realidade,
tudo depende de diversos fatores. “Às vezes será preciso gastar, outras não.
Vai depender do tipo de empresa, da ação, do projeto etc. Mesmo quando existe
um gasto, ele pode ser convertido em investimento no médio ou curto
prazo”, diz Ricardo Valente, diretor da Keyassociados. Para ter maior clareza
sobre essa ideia é preciso ter em mente que a sustentabilidade envolve uma
série de aspectos. Conduta ética, a não discriminação, corrupção, tudo faz parte
da sustentabilidade. Implantar ações nesse sentido não envolve,
necessariamente, a utilização de recursos financeiros.
“Lembre-se de
que todas as possibilidades geram crescimento e, apesar dos custos adicionais,
a sustentabilidade tem sido uma solução que traz ganhos”, afirma Branco.
2. É apenas para empresa grande
Este pensamento
está ligado ao primeiro mito. “Como a sustentabilidade não está,
obrigatoriamente, envolvida com custos, isso facilita a implantação de ações
sustentáveis em empresas de todos os portes. As pequenas também
fazem iniciativas sustentáveis, mas repercutem menos e são menos
cobradas”, expõe Valente, da Keyassociados. E essas companhias podem estar
envolvidas com a sustentabilidade por diversos motivos. “Muitas descobrem que
esse pensamento é lucrativo; outras investem no tema em razão da
consciência do dono ou por terem uma visão moderna; e algumas por serem
fornecedoras de uma grande empresa, sendo, assim, pressionadas”,
avalia o profissional. Lembre-se, aliás, de que as pequenas empresas, em
conjunto, podem ter um impacto socioambiental maior do que as grandes
companhias, visto que elas existem em maior número.
3. Sustentabilidade reduz o conforto
A sustentabilidade não é sinônimo de
redução de qualidade de vida. “A briga, na realidade, é para que as pessoas de
hoje possam continuar vivendo confortavelmente, mas que as do futuro ainda
tenham comodidade. E para isso é preciso achar o equilíbrio”, diz Valente.
4. Sustentabilidade é uma moda/tendência passageira
O assunto veio para ficar. “Esperamos
apenas que, no futuro, o tema esteja tão enraizado na cultura das empresas que
não será mais necessário dar tanto enfoque a ele. Será incorporado ao dia a dia
das companhias, não sendo um tema que precise a todo momento ser lembrado, mas
que nem por isso deixará de existir. Pelo contrário, será algo natural”,
acredita Valente.
5. Ter uma área específica de sustentabilidade é solução
Com o pensamento de que a sustentabilidade
é uma tendência, diversas empresas criaram áreas especificas para tratar do
assunto no campo empresarial, sem perceber que isso não basta. “De nada adianta
criar uma área isolada. O importante mesmo é que todos os outros campos
funcionais existentes na companhia conversem para que a sustentabilidade seja
tratada com a importância que deve ter”, explica Branco. Criar uma área apenas
para ter o nome sustentabilidade trabalhada na empresa acaba fazendo com que as
outras frentes deixem de pensar sobre o assunto.
6. Ser sustentável é ter ações ambientais
Não acredite que sustentabilidade é
sinônimo de meio ambiente. É comum esquecerem que o tema envolve ainda o lado
econômico e social. “Não é bom para a sustentabilidade que a companhia tenha
uma boa gestão ambiental, mas conte com sérios problemas como trabalho escravo
e envolvimento com corrupção. É preciso que o tripé meio ambiente, economia e
social esteja inserido dentro do negócio da empresa”, afirma Valente,
da Keyassociados. E, aqui, é preciso mudar as ações não apenas do mundo
corporativo, como também do individual. “Apenas saber e entender o que é
sustentabilidade não adianta. É preciso colocar em prática para que esse
processo não fique no lado racional. De que adianta você assumir
responsabilidades e continuar consumindo de empresas que sonegam impostos ou usam
da pirataria?”, questiona Branco.
7. Ser sustentável só é viável quando se tem um presidente
visionário
Sim, a síndrome do Fábio Barbosa,
empresário ligado ao mundo da sustentabilidade, existe nas empresas.
“Muitas delas pensam que se o presidente não for comprometido e
determinado com os assuntos verdes, a sustentabilidade não vai para
frente”, revela Branco. Isso é falso: uma empresa sem um líder com essas
características também pode criar ações que rendam bons frutos.
8. Inovação resolve tudo
Outro mito muito comum é acreditar que
as novas tecnologias solucionam todos os problemas. “É obvio que elas vão
ajudar a sustentabilidade. Motores mais eficientes, lâmpadas que consomem menos
energia e mais transparência de informação são alguns exemplos que trarão
impactos positivos para o tema. Mas é preciso evitar os braços cruzados”,
esclarece Valente. Pense, também, que ações simples podem resolver problemas
atuais. Mudanças de postura, de como usar água e energia, podem ser adotadas
imediatamente, e trarão bons resultados para a sustentabilidade. “Nós mesmos
somos capazes de achar saídas para os problemas vistos. Isso não significa que
a tecnologia não seja importante, mas é preciso repensar tudo”, salienta
Branco.
9. Fazer um relatório de sustentabilidade é suficiente
Apenas publicar esse documento não
basta. “Tenha consciência de que ele é um relato, uma prestação de contas, é a
linha final de um processo”, diz Ricardo Valente. Por isso, inclusive, que no
documento consta uma série de questões, boas e ruins, apontando temas que a
empresa está envolvida. Ele não é uma peça de marketing que diz tudo que há de
bom. O relatório deve falar, ainda, sobre temas críticos. Ele serve para
dar uma visão completa sobre a sustentabilidade da companhia.
10. Falar das práticas "verdes" é fazer marketing falso
Essa é uma questão histórica, já que
no passado as companhias comunicavam qualquer ação pequena como se fosse algo
grande e faziam muito barulho por nada.“Com o tempo, isso começou a ser
criticado. Agora o que acontece é a maximização desse pensamento. Passou-se a
considerar qualquer comunicação como greenwashing. Mas tem muita empresa com
projetos realmente interessantes, solucionando problemas críticos, que
não conseguem espaço para divulgá-los. Não há problema em expor
os projetos realmente sustentáveis. Isso incentiva outras empresas
e aumenta a conscientização. As companhias só precisam ter consciência e
divulgar apenas aquilo que realmente é importante”, explica Ricardo
Valente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!