domingo, 26 de abril de 2009

Um olho no passado, outro no futuro


Professor do Departamento de Energia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gilberto de Martino Jannuzzi também é graduado em Matemática e doutor em Estudos de Energia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra). Autor de vários artigos técnicos e de outras obras, como Planejamento integrado de recursos energéticos: meio ambiente, conservação de energia e fontes renováveis e Políticas públicas para eficiência energética e energia renovável no novo contexto de mercado: uma análise da experiência recente dos EUA e do Brasil, comenta as escolhas que o Brasil fez e faz na área energética. Confira a entrevista abaixo.

 
Há mais de 30 anos, o Brasil fez uma opção política pelo modelo hidrelétrico. Essa decisão foi acertada e quais os limites para sua expansão?

Foi acertada, porque aproveita um dos recursos naturais mais abundantes do país, a água. Mas há limites. Há 30 anos perseguimos uma política focada na expansão da geração de eletricidade, que levou ao esgotamento do potencial nas regiões de maior consumo, no Sul e Sudeste. Agora, caminhamos para usar os últimos remanescentes, no Norte, avançando em um sistema complexo e pouco conhecido. Só hoje estamos conhecendo melhor os impactos contundentes do modelo hidrelétrico. Até podemos melhorar tecnologias, em barragens, turbinas, mas tudo está cada vez mais caro, ao mesmo tempo em que temos outras maneiras de se atender à demanda energética nacional.

 
Porque estão ocorrendo mais investimentos em termelétricas do que em energias renováveis?

Esses movimentos são condizentes com a mesma prática histórica da simples expansão da oferta, somados à demora na aprovação de projetos hidrelétricos e facilidades para aprovação de usinas termelétricas. Sobre fontes renováveis, houve o esforço do Proinfa para acelerar a entrada dessas fontes na geração energética, mas o programa não teve sucesso: o país ainda não tem suporte para disseminar de forma mais agressiva essas fontes na nossa matriz, principalmente do enorme potencial da fonte eólica e da biomassa.

 Energias renováveis como eólica, solar são mais caras?

É verdade, mas é difícil comparar tecnologias nascentes com outras consolidadas. É uma competição desigual, e isso ocorre não só no Brasil. Mas se observamos a penetração da fonte eólica na Alemanha, Dinamarca e Espanha, houve compromisso governamental de inicialmente subsidiar essas fontes, assim como ocorreu no início da geração hidrelétrica. A fonte eólica é hoje competitiva em vários países do mundo. É inevitável um período onde incentivos fiscais sejam oferecidos a essas fontes, até que se consolidem. Com isso, no médio e longo prazos, elas devem ter custos bem atrativos. Se não fizermos nada agora, essas fontes ainda serão caras daqui a dez, 20 anos. Toda inovação é inicialmente mais cara, mas tratam-se de decisões estratégicas.


 

O Brasil trata bem assuntos como eficiência e economia de energia?

Embora existam coisas importantes sendo feitas, a mobilização ainda é bem modesta frente ao potencial. Por exemplo, estamos perdendo tempo com falta de planejamento, principalmente em nossas cidades, onde deveríamos estar implementando energia solar para aquecimento de água e outras tecnologias para economia de eletricidade. Falta bom planejamento para tomar atitudes como essas.

 

E sobre a indústria de eletrointensivos?

Da eletricidade gerada no país, mais de 50% é consumido pela indústria, e parcela significativa, pelo setor de eletrointensivos, além de petróleo e biomassa. Caímos nessa armadilha histórica, sem culpar o passado, pois a energia na época não era um fator crítico como é hoje. Por isso investimos pesado em siderúrgicas, petroquímicas e outras fábricas. Agora, será muito difícil mudar essa estrutura industrial no curto prazo. Mas temos a vantagem de que esses grandes consumidores não são muitos. Seria interessante que negociassem metas com o governo para que fosse possível monitorar seus progressos em economia de energia.

 

No ramo energético-urbano, que bom exemplo se destaca?

Um dos grandes exemplos vem da Califórnia (Estados Unidos), estado pioneiro e inovador há 30 anos em eficiência energética. Algo disseminado por lá e em vários outros países é a definição de normas técnicas para edificações, promovendo avanços tecnológicos para economia de energia. Eles têm, por exemplo, até um padrão mínimo para economia de lâmpadas, atualizados a cada cinco anos. Isso é muito eficiente, pois retira do mercado equipamentos ruins, que gastam muita energia. Por aqui tentamos isso, mas muitos de nossos regulamentos são voluntários e não acompanham as inovações tecnológicas.

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