O corpo frágil e os passos arrastados da velha chola, a típica índia latino-americana, contrastam com um olhar vivo e orgulhoso de sua história.
– Falamos quíchua, não falamos espanhol. Não somos espanhóis – diz ela, tecendo um tapete nas ruas de pedra de Ollantaytambo, Peru, próximo a Machu Picchu.
Para fazer um mochilão pela América é preciso estar preparado para descobrir um mundo que, mesmo estando ao nosso lado, é totalmente estranho à nossa cultura. Não é só o idioma e a fisionomia das pessoas que mudam. Cada país reserva a sua peculiaridade.
A Argentina do tango e dos cafés, por exemplo, é outra ao norte, região que é a porta de entrada para o Deserto do Atacama. O pampa transforma-se em pó, pedra e sal. Tanto sal que parece um oceano. Para caminhar sobre este mar, é só parar o carro e descer. São centenas de metros que, vistos de longe, parecem miragem.
No Chile, a natureza é selvagem e implacável com o estrangeiro. A região do Atacama é a mais árida do mundo, e é bom estar muito preparado para enfrentar o calor e a altitude. Em compensação, os vales, as águas termais, os vulcões e a variedade de animais exóticos compõem um cenário único no planeta. Já o Peru fascina pela sua história, arquitetura e pela magnitude da sua geografia.
Cusco, a antiga capital do império inca, é um labirinto de ruelas, construções seculares e muita vida noturna. No Vale Sagrado dos Incas, região que serve para plantação desde o antigo império, é possível visitar importantes ruínas, como Ollantaytambo, e chegar até a mais fascinante delas: Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas.
Situada entre quatro montanhas, Machu (velha) Picchu (montanha) foi um santuário sagrado para este povo e é um dos poucos locais onde os espanhóis não chegaram. Descoberta somente no começo do século 20 por um historiador britânico, a cidade significava para os incas o ápice de uma civilização que teria começado no Lago Titicaca, conforme a lenda. E justamente no Titicaca, que pertence ao Peru e à Bolívia e é o lago mais alto do mundo, é possível dormir em uma ilha flutuante feita da planta aquática totora e ouvir as lendas indígenas esquentando os pés em uma fogueira feita pelos nativos.
Com as finanças apertadas e o corpo cansado, porém satisfeito, é hora de fazer a última parada. La Paz, capital da Bolívia, é uma cidade grande e barata, excelente para compras e festas. O turismo é um pouco restrito devido ao seu isolamento geográfico, que torna a cidade mais autêntica. Esqueça todas as regras de trânsito aprendidas no Brasil, deixe-se levar pela aparente confusão e, quem sabe, traga um feto de lhama de recordação. Esta é a América, ou um pedaço dela, que nos é tão próxima e tão rara.
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