terça-feira, 26 de maio de 2009

Com o pé em outras culturas

O corpo frágil e os passos arrastados da velha chola, a típica índia latino-americana, contrastam com um olhar vivo e orgulhoso de sua história.

– Falamos quíchua, não falamos espanhol. Não somos espanhóis – diz ela, tecendo um tapete nas ruas de pedra de Ollantaytambo, Peru, próximo a Machu Picchu.

Para fazer um mochilão pela América é preciso estar preparado para descobrir um mundo que, mesmo estando ao nosso lado, é totalmente estranho à nossa cultura. Não é só o idioma e a fisionomia das pessoas que mudam. Cada país reserva a sua peculiaridade.

A Argentina do tango e dos cafés, por exemplo, é outra ao norte, região que é a porta de entrada para o Deserto do Atacama. O pampa transforma-se em pó, pedra e sal. Tanto sal que parece um oceano. Para caminhar sobre este mar, é só parar o carro e descer. São centenas de metros que, vistos de longe, parecem miragem.

No Chile, a natureza é selvagem e implacável com o estrangeiro. A região do Atacama é a mais árida do mundo, e é bom estar muito preparado para enfrentar o calor e a altitude. Em compensação, os vales, as águas termais, os vulcões e a variedade de animais exóticos compõem um cenário único no planeta. Já o Peru fascina pela sua história, arquitetura e pela magnitude da sua geografia.

Cusco, a antiga capital do império inca, é um labirinto de ruelas, construções seculares e muita vida noturna. No Vale Sagrado dos Incas, região que serve para plantação desde o antigo império, é possível visitar importantes ruínas, como Ollantaytambo, e chegar até a mais fascinante delas: Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas.

Situada entre quatro montanhas, Machu (velha) Picchu (montanha) foi um santuário sagrado para este povo e é um dos poucos locais onde os espanhóis não chegaram. Descoberta somente no começo do século 20 por um historiador britânico, a cidade significava para os incas o ápice de uma civilização que teria começado no Lago Titicaca, conforme a lenda. E justamente no Titicaca, que pertence ao Peru e à Bolívia e é o lago mais alto do mundo, é possível dormir em uma ilha flutuante feita da planta aquática totora e ouvir as lendas indígenas esquentando os pés em uma fogueira feita pelos nativos.

Com as finanças apertadas e o corpo cansado, porém satisfeito, é hora de fazer a última parada. La Paz, capital da Bolívia, é uma cidade grande e barata, excelente para compras e festas. O turismo é um pouco restrito devido ao seu isolamento geográfico, que torna a cidade mais autêntica. Esqueça todas as regras de trânsito aprendidas no Brasil, deixe-se levar pela aparente confusão e, quem sabe, traga um feto de lhama de recordação. Esta é a América, ou um pedaço dela, que nos é tão próxima e tão rara.

Lugares imperdíveis

Argentina
Jujuy – Esta região tem interessantes ruínas incas e é a porta de entrada para o Deserto do Atacama. Quase na fronteira com o Chile, é possível caminhar sobre salares e comprar recordações feitas de sal, como cinzeiros e estátuas. A partir deste ponto as lhamas começam a acompanhar o viajante rumo ao interior do deserto.
Chile
San Pedro de Atacama – Fique três ou quatro dias neste pequeno povoado de 2 mil habitantes cravado no meio do deserto. É inesquecível apreciar o pôr do sol ou o dia nascendo no Valle de la Luna. Outro passeio imperdível é o banho nas águas termais desérticas, que chegam a mais de 30ºC durante a tarde. Se tiver um pouco mais de tempo e disposição, acorde às 4h e conheça os gêiseres.

Peru
Cusco – Dedique quatro ou cinco dias para conhecer Cusco, a antiga capital do império inca, e se perder nos labirintos da noite cusqueña. Para ir a Machu Picchu, o ideal é contratar uma agência de turismo (há dezenas em Cusco). O valor fica desde US$ 100, com hospedagem em Aguas Calientes, transporte e refeições incluídas.
Puno – A capital folclórica do Peru é banhada pelo Lago Titicaca. Com cerca de R$ 20, é possível passear pelas ilhas flutuantes do lago e dormir na Isla de los Uros, com jantar, café da manhã e hospedagem em uma cabana de totora.
Bolívia
La Paz – Barata e superpovoada, a capital da Bolívia é autêntica, oferece muitas festas, farta gastronomia e espaço para compras. No Mercado das Bruxas, no centro, é possível comprar fetos de animais ressecados, couro de animais como cobras e tatus e todo o tipo imaginável de magias. A noite termina às 4h, mas as festas clandestinas são tão populares como as que estão na agenda do dia.
Como foi o mochilão
Em julho de 2008, oito amigos começaram a organizar a viagem, cujo destino final era Machu Picchu. Foram seis meses de preparação, elaboração de roteiro e economias. No dia 30 de janeiro deste ano, os amigos partiram de Porto Alegre em um Civic e um Fox, se encontraram em Santa Maria e colocaram o pé na estrada. Foram 20 dias de viagem e um gasto médio de R$ 2,5 mil cada um. O roteiro foi levemente alterado durante o caminho. A principal vantagem de viajar de carro é poder interagir com todos os lugares visitados. O maior inconveniente é o cansaço, já que é preciso estar sempre concentrado na direção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!