terça-feira, 26 de maio de 2009

É preciso ver para além do horizonte de uma vida


O Presidente de Cabo Verde defendeu hoje que o futuro de África necessita de ser visto a longo prazo, “além do horizonte de uma vida, de uma geração ou de interesses de um só país”.


Pedro Pires discursava ao princípio da noite nos jardins do Palácio Presidencial na recepção ao corpo diplomático acreditado em Cabo Verde por ocasião do Dia de África, que hoje se assinala no continente.

“É preciso ver para além do horizonte de uma vida, de uma geração ou de interesses de um só país. Não o fazendo, não seremos capazes de nos desembaraçarmos de certos conflitos endémicos e de instabilidades correlativas”, afirmou Pedro Pires.

No seu entender, alguns dos conflitos armados no continente africano são fruto de “visões distorcidas da História”, além de provocados por “inércias culturais, intolerâncias e ausência de compromissos e de uma visão partilhada de futuro”.

Para Pedro Pires, entre as fragilidades do continente figura a “fraqueza da cultura institucional”, razão pela qual se deve apostar na “elevação da qualidade e sustentabilidade das instituições”, através de uma gestão pública que “privilegie o mérito, eficácia e bom funcionamento e ultrapasse a fixação no indivíduo”.

“Regista-se na região oeste-africana o ressurgimento de fenómenos indesejáveis: golpes de Estado e assassínios políticos. São resultados decorrentes de fraquezas institucionais. Cabe-nos a árdua tarefa de contribuir para se encontrarem soluções ajustadas e pertinentes”, defendeu.

Lembrando que, pela primeira vez em 60 anos, o crescimento mundial será negativo, Pedro Pires alertou que os países pobres “não devem carregar os custos de uma crise, cujas causas se geraram noutras paragens”.

Realçando também que, nos últimos cinco anos, o crescimento económico em África se situou sempre acima dos cinco por cento, o presidente cabo-verdiano referiu que, este ano, abrandou, devendo situar-se próximo dos três por cento, quebra que considerou “apreciável”.

Todavia, acrescentou, espera-se que em 2010 o crescimento poderá ser retomado.

Sobre Cabo Verde, Pedro Pires recorreu aos números do Bando Africano de Desenvolvimento (BAD) para vincar que Cabo Verde está “relativamente protegido” da crise financeira internacional, apesar de registar “alguns índices desfavoráveis”.

O abrandamento do crescimento será “incontornável”, devendo-se esperar a retracção do Investimento Directo Estrangeiro (IDE), continuar com prudência na gestão dos recursos públicos e privilegiar as actividades económicas geradoras de emprego.

“A caminhada de concretização da grande ambição africana tem sido complexa e carregada de obstáculos, desacertos e, quantas vezes, de equívocos. Porém, apesar de o quotidiano nos parecer trágico e desconfortante, estou em crer que o somatório dos ganhos e progressos conseguidos (…) é, mesmo assim, notável e encorajador”, referiu.

Por seu lado, o decano dos embaixadores na Cidade da Praia, o angolano José César Augusto, em representação do corpo diplomático, manifestou as “preocupações” pelos problemas e obstáculos que África tem ainda de enfrentar, dando como exemplos os casos da Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, RDCongo, Somália, Chade e Sudão.

O diplomata angolano manifestou-se, porém, convicto de que os focos de instabilidade “não abalam a confiança dos africanos”, defendendo “linhas de diálogo e de concertação permanente” para também ajudar no combate às doenças.

O Dia de África foi instituído pela ONU, em 1972, como o Dia da Libertação da África, simbolizando o combate que o continente africano travou para a sua independência e emancipação.

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