Povo mantém tradição de homenagear falecidos com música e comida.
Casas construídas há séculos tinham múmias e tesouros.
Nos paredões de uma Amazônia quase desconhecida, no norte do Peru, as montanhas servem de morada para quem já partiu deste mundo. Pequenas casinhas marcam uma das cidades dos mortos, herança do povo que antecedeu os incas, a civilização chachapoya.
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Para chegar até o sítio arqueológico, o caminho é duro de encarar. Só se chega a pé. A cidade fica a 2,9 mil metros de altitude: são três horas de caminhada exaustiva.
Quando a subida acaba, começa o trecho mais perigoso. A trilha passa a um palmo do abismo. Todo cuidado é pouco. Qualquer escorregada pode levar o aventureiro a pedir abrigo em curiosos túmulos históricos.
Para os chachapoyas, os mortos eram tratados com os mesmos privilégios que mereciam os vivos, às vezes, até mais, dizem os pesquisadores. Eram abrigados em casas de até dois andares. Tudo para proteger os corpos e as múmias da chuva e principalmente dos inimigos.
Dentro das casas, não dá para ver muita coisa além dos cômodos vazios. É como se a cidade dos mortos estivesse desabitada. Na verdade, ela foi saqueada ao longo dos tempos. Os cadáveres eram levados para lá, com todos os seus objetos pessoais, inclusive joias.
Perto dali ficam os sarcófagos de Carajya, um dos cartões-postais da Amazônia peruana. Lá, no alto da rocha, bem na vertical, que os povos chachapoyas e incas guardavam seus mortos. “Dominavam muito bem o equilíbrio, e não só isso, era uma questão de sabedoria”, diz a pesquisadora Hildegard de Leon.
Equilíbrio é a palavra-chave, diz a pesquisadora. Não apenas para escalar o paredão, mas também para viver em harmonia com a natureza.
Um desafio e tanto. Os rituais levavam meses até deixar o cadáver de cara para o leste, bem em frente à nascente do sol. Em nenhum outro lugar do mundo se encontra essa forma de enterro. Cada família ocupava seu sarcófago e o herói da aldeia tinha seu crânio exibido como se fosse um troféu. Com óxido de ferro, pintavam os símbolos da civilização no rosto da urna.
“Morrer não era o fim da vida", aponta a pesquisadora Hildegard de Leon.
Tradições preservadas
A morte era só uma passagem para outra vida. Lá pelo século 12, os chachapoyas já defendiam essa crença. Formaram uma legião de seguidores, que até hoje, tratam quem já se foi como se ainda estivesse entre nós.
É o que ocorre na cidade de Luya, que fica no centro do estado do Amazonas peruano. Os moradores fazem festa na casa dos mortos. Ao contrário de nós, brasileiros, que rezamos em silêncio quando lembramos dos parentes e dos amigos que já se foram, os mortos de lá são visitados no cemitério com música e banquete.
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