quarta-feira, 3 de junho de 2009

Compêndio para a Sustentabilidade: Agora é a vez dos governos

Por Leticia Freire, do Mercado Ético

Depois de dois anos de pesquisa, Anne Louette, lançará na quarta-feira (3/6), na Fundação Getúlio Vargas, o Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade das Nações - Uma contribuição ao diálogo da sustentabilidade. Na obra estão reunidos 25 indicadores, muitos exemplos mapeados em diversos países que almejam contribuir com a sustentabilidade do planeta. O Mercado Ético conversou com a autora do compêndio para entender a importância da obra.

Mercado Ético -Qual a história desse compêndio de indicadores?

Anne Louette - Quando eu estava reunindo as informações para organizar o compêndio de ferramentas de gestão, eu comecei a entrar em contato com os indicadores. De imediato fiquei fascinada. Como eu participo dessa discussão sobre as métricas de riqueza, pensei que essa seria uma excelente contribuição para o debate do PIB. Então, o intuito do Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade das Nações é levantar a necessidade de legitimarmos outras leituras de riqueza, que sejam realmente guiadas rumo à sustentabilidade do nosso planeta.

ME - Como o material foi idealizado?

Anne Louette - Eu proponho organizar alguns elementos que ajudem no debate sobre a importância da sustentabilidade na agenda do poder público. O objetivo é levantar a necessidade de legitimar Indicadores de Sustentabilidade de Nações, que podemos também chamar de indicadores de riqueza, bem-estar, felicidade etc. A partir daí, busquei divulgar quais as críticas ao PIB sem entrar nas métricas. Com as críticas em mãos, fui pesquisar iniciativas governamentais que caminham no mesmo eixo de debate, se contrapondo aos cálculos tradicionais.

ME - Como o compêndio espera contribuir para o debate sobre a inclusão de novas métricas para calcular a riqueza de um país, partindo do pressuposto de que o PIB não é um indicador sustentável?

Anne Louette - A realidade hoje é outra. Os tempos mudaram. O PIB desenhado após a Segunda Grande Guerra não corresponde às necessidades sociais e ambientais dos nossos tempos. É preciso atualizar essas métricas e cálculos. É necessário incluir novos indicadores para que haja uma melhor leitura de onde estamos e para onde esperamos ir. Hoje, o PIB é insuficiente. Ele mede a riqueza de uma nação, mas está baseado totalmente na produção, sem analisar o social e o ambiental nesse processo. O PIB está deixando as pessoas doentes e isso é muito polêmico. O compêndio é uma forma de apresentar, de forma organizada, iniciativas onde outros parâmetros para medir a riqueza de um país estão sendo usados.

ME - Mas para que o mundo comece a viver uma “economia verde” é preciso que o PIB de hoje seja substituído ou reformulado e tenha suas correções usadas como métrica oficial. É um longo caminho para o poder público. Você acredita que isso é possível?

Anne Louette - Sim e inicialmente temos que legitimar esse debate. As pessoas precisam entender do que se trata. Estamos fazendo as leituras erradas dessa “riqueza” e vou te dar um exemplo: quanto mais crime num país, maior o PIB. E aí pergunto: a indústria bélica impulsiona o crescimento? Como isso é possível?

Outro exemplo: se acabarmos com a Amazônia, teremos elevação em nosso PIB. Novamente alguma coisa está errada com os indicadores de riqueza atuais. Será que essa leitura não nos leva para um caminho completamente equivocado? Por isso esse compêndio é importante. Precisamos ter esses dados, calcular novos os indicadores e cobrar suas aplicações.

ME - Você acredita que a sociedade civil está preparada para cobrar dos governos e empresas uma postura mais sustentável em suas agendas?

Anne Louette - Algumas iniciativas já estão acontecendo e temos alguns exemplos dessa mobilização, como o movimento Nossa São Paulo. Em nível estadual, o Movimento é fundamental para que leis sejam aprovadas. Em qualquer evento que o Nossa São Paulo faça o atual prefeito e o governador vão estar presentes ou mandarão algum representante. Pode ser eleitoreiro? Sim, mas também é simbólico. Existe alguém do poder público local sendo mobilizado para viabilizar uma agenda mais próxima dos movimentos sociais. Claro que enquanto sociedade civil, também estamos em processo de aprendizagem e onde podemos mais avaliar isso é no voto, ou seja, você, com seu direito de escolher, elege alguém que tem a sustentabilidade na agenda ou não.

ME - Na sua opinião, qual o maior entrave ao avanço da sustentabilidade?

Anne Louette - Aprendizado. Trata-se, acima de tudo, de um processo de aprendizagem rumo à sustentabilidade. Isso necessita do entendimento e engajamento de todos. A coisa mais difícil a se pedir para uma pessoa é para que ela mude o jeito de pensar. Isso leva muito tempo.

ME - E temos tempo?

Anne Louette - As mudanças virão. Se temos tempo? Podemos aprender e mudar pelo bem ou pela dificuldade.

(Envolverde/Mercado Ético)

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