quarta-feira, 17 de junho de 2009

Consciência ambiental traz benefícios às empresas

Encontro anual da BCSD Portugal
17.06.2009 - 20h40 Ana Rita Faria
Não se trata apenas de uma preocupação súbita com as alterações climáticas ou de uma acção de puro marketing. A crescente consciência ambiental das empresas portuguesas, que se tem traduzido na implementação de sistemas de eficiência energética no seu seio ou na orientação para determinados produtos e serviços, tornou-se também um negócio que traz benefícios.

“Não tenho dúvidas de que as empresas que investirem em eficiência energética e em produtos verdes vão ganhar quota de mercado e ser mais competitivas”, afirmou hoje Zeinal Bava, presidente executivo da Portugal Telecom (PT), durante a conferência anual da BCSD Portugal, representação portuguesa do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que teve como tema central as alterações climáticas.

De acordo com o CEO da PT, “o esforço ambiental pouco tem a ver com marketing para a nossa empresa” e a aposta em soluções de sustentabilidade empresarial também beneficiam os accionistas da empresa.

Além disso, Zeinal Bava acredita que, dentro de algum tempo, haverá sistemas que controlem se as empresas estão ou não a cumprir com preceitos de sustentabilidade ambiental, pelo que “as empresas que não fizerem o seu percurso atempadamente vão ser penalizadas”.

Também o presidente da Efacec, Luís Filipe Pereira, que participou também na conferência da BCSD, acredita que “as empresas estão cada vez mais a olhar para a sustentabilidade como uma forma de ganharem competitividade”. Para o gestor, a noção de que as soluções de eficiência energética e protecção ambiental são um custo está já a ser ultrapassada.

Joaquim Goes, administrador do Banco Espírito Santo (BES), adianta que um bom exemplo desta tendência é o facto de “alguns fundos de investimento investirem já em empresas ou acções em função dos seus índices de sustentabilidade”.

Embora reconheça que a maior parte dos investidores ainda não tem este critério como primordial, Joaquim Goes considera que a consciência começa a nascer e que esta “é uma das dimensões onde uma política de sustentabilidade produz benefícios para os accionistas”.

Medidas postas em prática

O administrador do BES refere que o banco, à semelhança de outras empresas, tomou já algumas medidas no âmbito de promover a sustentabilidade empresarial. É o caso da desmaterialização dos extractos bancários, a realização de videoconferências em detrimento das deslocações e a redução dos consumos de electricidade dentro da empresa.

Também o presidente da Efacec adianta que a empresa tem este ano um objectivo de redução de dez por cento no consumo de energia eléctrica, mas que tem também apostado apostado nas certificações ambientais e em sistemas energeticamente eficientes, que permitam reduzir a emissão de dióxido de carbono e de resíduos.

Seguindo a tendência, a PT elegeu também a sustentabilidade como um dos cinco objectivos para o próximo triénio. Até 2010, a empresa quer reduzir em cerca de 20 por cento a sua frota automóvel, além de cortar em 63 por cento o consumo de energia nas telecomunicações.

Além das acções a nível interno, Zeinal Bava destaca que a aposta da PT na rede de fibra óptica, um investimento numa “tecnologia verde” que terá “efeitos directos e indirectos em termos de emissões de carbono”.

As reticências dos ambientalistas

Susana Fonseca, presidente da Quercus, manifesta algumas reticências sobre a crescente aposta na sustentabilidade por parte das empresas.

“Para combater as alterações climáticas, é necessário que as empresas tenham uma visão realmente global e que não olhem só para a sua conduta mas também para o próprio produto ou serviço que estão a oferecer”, salienta.

A presidente da Quercus dá como exemplo o caso da Nespresso, da Nestlé, que “pode até ser distribuída em carros eléctricos mas que, em si mesma, é um produto altamente insustentável em termos ambientais”.

De acordo com Susana Fonseca, o cumprimentos das obrigações ambientais poderia obrigar muitas empresas a rever o seu processo de produção e até a relação com os seus fornecedores, que podem não estar a respeitar o ambiente.

Para o ambientalista Viriato Soromenho Marques, do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), há outra questão que pode comprometer a aposta das empresas em soluções de eficiência energética e protecção ambiental.

“A nossa história tem sido feita de ciclos de atenção e desatenção política ao tema das alterações climáticas, pelo que as empresas têm toda a legitimidade para fazer a pergunta: as estratégias de investimento para o ambiente que temos agora encontram firmeza do lado das políticas públicas?”, questiono
u.

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