quarta-feira, 3 de junho de 2009

Meio ambiente sob cerco

A pretexto da crise econômico-financeira, a velha visão do desenvolvimento sem sustentabilidade volta a coagir a política ambiental



A Semana do Meio Ambiente transcorre dentro de um clima de preocupação dos ambientalistas não apenas em relação ao que se passa no mundo, em virtude dos condicionamentos da crise econômico-financeira, mas, igualmente, quanto ao futuro do Brasil, nessa área.

Infelizmente, a crise tende a colocar a questão ambiental de escanteio, sob o argumento da necessidade de focar na recuperação da economia. Isso significa não apenas menos recursos financeiros para os projetos ambientais, mas afrouxar as exigências de controle conquistadas com tanto esforço nas últimas décadas.

Na verdade, a luta em favor de um novo paradigma produtivo baseado na sustentabilidade sempre encontrou uma forte resistência no “pragmatismo” do establishment. Só há muito custo a percepção de que o imediatismo é prejudicial aos interesses estratégicos gerais conseguiu emergir e ganhar credibilidade. Mas, isso é feito sempre com muita relutância, por parte do setor econômico que, ao primeiro sinal de dificuldades, tende sempre a secundarizar a preocupação ecológica.

No mundo inteiro, a presente crise leva empreendedores e governos a reagir segundo os velhos condicionamentos, esquecendo não só compromissos anteriores nessa área, mas secundarizando os próprios direitos fundamentais da pessoa humana, como vimos denunciado em recente balanço feito pela Anistia Internacional. É um erro apostar num desenvolvimento que marginalize a pessoa humana e o ambiente. No entanto, é o que se tem visto, na atual conjuntura: como se considerassem os cuidados a esse respeito um luxo, só exequível quando os lucros corresponderem às expectativas do sistema produtivo. Não é por outra razão que vemos ganhar novamente terreno, nos próprios meios oficiais, o velho bordão de que o desenvolvimento estaria sendo prejudicado pela “rigidez” dos códigos ambientais. Ora, essa cantilena oportunista peca contra os interesses mais vitais da sociedade brasileira e sintoniza-se com a ofensiva de determinados setores para retomar espaço perdido com o avanço da consciência ambiental institucionalizada.

No Brasil, a devastação ambiental continua impávida. Até mesmo a Mata Atlântica, a floresta mais depredada de nossa história - que recentemente foi objeto de leis protecionistas com o objetivo de salvar o mínimo que resta do seu antigo patrimônio - continuou a ser devastada, cinicamente, apesar da nova legislação, sob os mais diversos pretextos. A pressão sobre a Amazônia por parte de ruralistas volta a se intensificar, como nunca, e a ameaçar o que já foi conquistado. Infelizmente, os governos – sejam o federal, os estaduais e os municipais – têm cedido cada vez mais à pressão da velha visão desenvolvimentista, dando costas à sustentabilidade. É hora de a sociedade reagir.

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