terça-feira, 30 de junho de 2009

Sustentabilidade do ouro branco

Por Editor em 30/06/2009

O setor sucroalcooleiro teve grandes avanços nas sete décadas nas quais contou com forte participação de agentes privados, quase sempre com a intervenção do Estado. Surge, no entanto, uma pergunta: será possível no atual ambiente econômico, político e social do mundo globalizado assegurar a sustentabilidade de uma atividade com grandes impactos?



A resposta depende da capacidade de o Estado e os agentes privados juntos estabelecerem uma visão de futuro – um objetivo – e trabalharem para assegurar sua realização. A experiência mostra que esta não é tarefa trivial. No entanto, deixar de lado a sua elaboração seria um erro fatal. A formulação dessa visão deve partir do conceito de sustentabilidade.

Entretanto, em primeiro lugar, deve-se avaliar que a dinâmica econômica do setor sucroalcooleiro ainda é determinada pelas trajetórias altamente correlacionadas da produção e consumo de açúcar e de álcool. Além disso, apesar das atuais vantagens econômicas, o volume de investimentos necessário a sua preservação é ainda gigantesco, e está relacionado à disponibilidade de terras – sem comprometer outras culturas, ou áreas ocupadas por recursos naturais intocados –, à oferta de infra-estrutura de armazenamento e transporte e à construção de novas usinas para o processamento da cana. Assim, a sustentabilidade sistêmica depende da sustentabilidade de cada uma das empresas da cadeia produtiva.

Chamamos a atenção para esses pontos porque a análise histórica do desenvolvimento econômico brasileiro, desde o Descobrimento, pode ser caracterizada pela exploração impiedosa, em ciclos sobrepostos, de recursos naturais relativamente abundantes. Assim, exploramos o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro, o café e a borracha. Em cada ciclo, a economia crescia de maneira acelerada, para depois entrar em colapso, deixando sequelas socioeconômicas. Uma avaliação dos erros e acertos de mais de quatro séculos de exploração desses recursos poderia ser resumida em uma expressão, senão inovadora, ao menos cândida: "É a sustentabilidade, estúpido".

O açúcar foi introduzido na Europa no início do século X e, anos mais tarde, considerado uma especiaria. Portugal, no início do Século XV, já dominava sua produção. Em 1516, foram implantados os primeiros núcleos açucareiros no Brasil. O beneficiamento no País fez com que os portugueses se tornassem os grandes supridores mundiais. A boa adaptação às terras do Brasil foi a força motriz da cana-de-açúcar, que chegou a ser chamado na época de "ouro branco" pela riqueza que gerava. Todavia, choques internos e externos fizeram com que, a partir da segunda metade do Século XVII, a produção fosse reduzida: desorganização do mercado, concorrência antilhana – subproduto das invasões holandesas ao Brasil –, queda do preço no mercado europeu, retração das exportações e aumento do custo com a mão-de-obra escrava, o que acabou por reduzir a rentabilidade dos engenhos. Apesar das vantagens competitivas, não se conseguiu assegurar a sustentabilidade.

Agora, nesse novo boom da cana-de-açúcar, é preciso estabelecer nesse setor padrões de excelência atrelados à sustentabilidade socioambiental. É necessário manter o respeito pleno às prerrogativas legais dos colaboradores, com adequada remuneração do capital e visão mais ampla da estratégia empresarial do negócio. Deve-se contemplar, ainda, o relacionamento com a comunidade em que a organização atua, visando ao seu desenvolvimento educacional e econômico, e o adequado relacionamento com os trabalhadores do setor.
Além disso, o item sustentabilidade tem também componentes importantes de interface com o consumo de energia das propriedades, a utilização dos subprodutos para produção interna de insumos e o destino dos resíduos gerados nas usinas.

As exigências de adequação já começaram. Devemos pensar que estamos no Século XXI.

AUTORIA

Antoninho Marmo Trevisan
Empresário e Educador
Presidente do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, da Trevisan Consultoria e Gestão, da Trevisan Escola de Negócios
Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!