sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sustentabilidade e cadeia produtiva

Fabio Feldmann
De São Paulo

Esta semana meus comentários serão sobre um dos mais importantes acontecimentos ocorrido na área ambiental. Trata-se da decisão de algumas redes de supermercado de não adquirirem carne de áreas de desmatamento da região amazônica.

Este acontecimento marca um importante instrumento na área da sustentabilidade pelo fato de que permite que se trate a questão sócio-ambiental na perspectiva de toda cadeia produtiva. Cada um de nós tem um papel enquanto consumidor neste processo mas somente com o engajamento da rede varejista este papel se efetiva. A menos que esta última assuma o seu papel estaremos dando murro em ponta de faca.

Nesse episódio podemos destacar a ação importantíssima e fundamental de duas ONG's: Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, da qual faço parte do Conselho e Greenpeace Brasil, da qual sou membro do Board do Greenpeace Internacional.

A primeira organização vem desde 2006 alertando a diretoria do IFC - International Finance Corporation, o braço privado do Banco Mundial, sobre as irregularidades praticadas na região Amazônica pelo frigorífico Bertin, com quem mantinha contrato de empréstimo. O frigorífico vinha comprando gados ilegais e expandindo suas compras na região, afetando florestas, unidades de conservação e terras indígenas. O relatório da ONG publicado em abril deste ano, "A Hora da Conta", já denunciava que as práticas da Bertin contrariavam seu compromisso com o IFC. Assim, Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra, anunciou nesta semana que o IFC decidiu cancelar seu contrato com o frigorífico.

Tão importante quanto a iniciativa da Amigos da Terra, foi o relatório divulgado neste mês pelo Greenpeace Brasil organização liderada por Marcelo Furtado, intitulado "A Farra do Boi na Amazônia", que denuncia a relação entre empresas frigoríficas e fazendas com o desmatamento ilegal e trabalho escravo. O Ministério Público Federal (através de sua Procuradoria no Pará) e o Ibama também procederam a um levantamento daqueles que criam bois de forma irregular e os frigoríficos que compram estes, o que culminou no ajuizamento de diversas Ações Civis Públicas. Também, o Ministério Público recomendou a 69 compradores de subprodutos dos frigoríficos (dentre eles grandes redes de supermercado) que suspendam a aquisição, sob pena de serem consideradas co-responsáveis pelos danos ambientais.

Dentre os réus constam vinte e uma fazendas e frigoríficos, dentre outros os frigoríficos Bertin, Bracol e Redenção e as fazendas do grupo Santa Bárbara.

Como resultado das Recomendações, as empresas Pão de Açúcar, Wal Mart e Carrefour anunciaram a suspensão de compras de produtos bovinos de onze empresas do estado do Pará, evidenciando que não "financiarão" o desmatamento na região. A Adidas, que é mencionada pelo Greenpeace como compradora de produtos da Bertin (couro) anunciou nesta semana que quer garantias de que o produto não seja proveniente do desmatamento da Amazônia. Este é um dos principais acontecimentos para a área ambiental, mostrando a importância e a necessidade de se reconhecer a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva do produto.

Espera-se dos demais compradores de subprodutos - que serve de matéria-prima para bens como calçados, detergentes, produtos químicos, higiene e beleza, rações, alimentos, gelatinas, couro, etc - que também assumam sua responsabilidade diante de toda a cadeia produtiva. Dentre outros compradores de subprodutos estão a Perdigão, Ypê, Minerva, Esmaltec, Vulcabrás, Seara, Vicunha Têxtil. A lista divulgada pelo MPF está disponível aqui http://www.prpa.mpf.gov.br/noticias/compradores_gado_desmatamento.pdf.

Por fim, mudando de assunto, muitas pessoas me ligaram para comentar sobre o corte de árvores na Marginal Tietê. Como estava viajando, não pude me aprofundar sobre este assunto mas preliminarmente devo dizer que acho um grande equívoco esta atitude. Do ponto de vista simbólico, ainda que medidas mitigadoras e compensatórias devam surgir com tal supressão, acredito que o governo de São Paulo está cometendo um grande equívoco demonstrando incapacidade de compreender que a solução dos problemas de congestionamento passam mais por uma abordagem de software do que iniciativas como essa.

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