quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Observatório das Metrópoles...

Por: Fabio Angeoletto
Observatório das Metrópoles
Compreender como os moradores de bairros de Sarandi e Maringá gerenciam seus quintais: o que plantam e como usam a vegetação dos quintais, quanto possuem de área livre para plantios, que destino dão ao lixo orgânico, que conhecimentos possuem sobre algumas questões ambientais e se permitiriam plantios de árvores frutíferas nos quintais.

Esses são os objetivos da pesquisa “Ecologia Urbana dos Quintais de Maringá e Sarandi”, coordenada pelo biólogo Fábio Angeoletto. A Universidade Autônoma de Madrid, onde o biólogo faz doutorado em ecologia, e a Rede Nacional Observatório das Metrópoles, Núcleo Universidade Estadual de Maringá firmaram um convênio de cooperação técnica para o desenvolvimento da pesquisa.

As cidades estão crescendo rapidamente, em número e área, principalmente no Terceiro Mundo. A expansão das aglomerações urbanas tem acontecido através da conversão de solos agrícolas e de solos ambientalmente importantes, como áreas de florestas e mangues. Tal fenômeno evidencia a importância de estudos sobre a ecologia dos ecossistemas urbanos, com o objetivo de fornecer aos gestores urbanos dados para uma planificação alicerçada em critérios sócio-ambientais, que promova a melhoria das condições de vida dos cidadãos e diminua os impactos ambientais causados pelas cidades.

Usualmente, as cidades estão localizadas em ambientes-chave: próximas de rios, ao longo de costas oceânicas, entremeadas a florestas. Portanto, cidades tendem a se desenvolver em cenários cruciais para a conservação biológica, o que evidencia a urgência do planejamento de cidades menos hostis à vida silvestre. Segundo o biólogo do Observatório das Metrópoles, “o planejamento adequado de cidades é tão importante para a conservação da natureza quanto a criação de áreas naturais legalmente protegidas.”

Pesquisas sobre a relação sociedade / vegetação em ecossistemas urbanos são recentes. “Pouco é conhecido sobre como a vegetação se comporta entre diferentes bairros e como a capacidade de gestão da vegetação varia entre moradores e comunidades. A comparação entre a estrutura social e a estrutura da vegetação de ecossistemas urbanos permite prever como será a vegetação em dada área, considerando-se suas características sociais, o que possibilita um planejamento mais acurado da arborização urbana”, explica Angeoletto.

A ecologia urbana é um ramo novo da ecologia, que procura compreender as cidades a partir de um ponto de vista sócio-ambiental. “Cidades são ecossistemas complexos, influenciados não apenas por dinâmicas ambientais, mas também por fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Portanto, é impossível compreender a ecologia de uma cidade sem analisar conjuntamente suas características ambientais – sua vegetação, por exemplo – e as influências humanas sobre o ambiente urbano”, afirma o biólogo.

Conhecimentos sobre a ecologia das cidades possuem muitas aplicações no planejamento e gestão urbanas. Contudo, há uma escassez de estudos sobre o tema. “A lacuna de conhecimentos sobre ecologia urbana priva a ecologia básica do entendimento da mais disseminada e extremada forma de intervenção humana sobre a biosfera; impossibilita à ecologia aplicada o acesso a opções de gestão nos núcleos urbanos e limita a capacidade de prover aos cidadãos mais qualidade de vida, saúde e bem estar”, explica Fábio Angeoletto.

O biólogo concluiu a primeira etapa da pesquisa, realizada em quatro bairros de baixa renda da cidade de Sarandi: Jardim Universal, Jardim Bom Pastor, Jardim das Torres e Conjunto Triângulo. A mesma metodologia de coleta de dados utilizada em Sarandi está sendo replicada na Zona 02, em Maringá. O método consiste na entrevista de moradores com um questionário, medições das áreas de solo livre e solo pavimentado dos quintais e contagem e identificação das espécies vegetais presentes nesses espaços. A idéia é comparar como ricos e pobres se relacionam com seus quintais.

Em linhas gerais, a análise dos dados relativos aos bairros de Sarandi indica quintais com bastante área livre para plantios, variando, em média, de 70 m2 no Conjunto Triângulo a 265 m2 no Jardim das Torres. Mas esse recurso não é aproveitado adequadamente pelos moradores.

No Jardim Universal, por exemplo, o número médio de árvores por quintal é de apenas 3,7. Com base no número médio de árvores por quintal nos quatro bairros, e do solo disponível para plantios, o pesquisador estimou o déficit arbóreo dos quintais para os quatro bairros pesquisados. “Para o Jardim Universal, por exemplo, o déficit é de oito árvores por quintal. Os bairros que estudamos são todos de baixa renda, o que denota a importância do estabelecimento de políticas públicas para o planejamento ambiental dos quintais, visando o aumento da presença de árvores frutíferas nesses espaços”, afirma Angeoletto.

A pesquisa revelou uma mínima pavimentação dos quintais, que, com exceção do Conjunto Triângulo (31,4%), nos demais bairros variou, em média, de meros 5% nos Jardim das Torres a 14,9% e 18,3% nos bairros Bom Pastor e Jardim Universal, respectivamente. As plantas encontradas nos quintais são sobretudo de caráter alimentar, e com menor freqüência, de caráter ornamental.

Os moradores dos bairros de Sarandi demonstraram, de acordo com os dados da pesquisa, preocupações ambientais de caráter local, relativas, por exemplo, a depósitos de lixo localizados em terrenos baldios. O interesse pelo plantio de árvores frutíferas era maior entre proprietários de quintais de maior área livre e onde a vegetação era mais escassa. Para a Zona 02, o pesquisador tem uma hipótese de pesquisa diferente. “Esperamos encontrar quintais onde predomina uma vegetação arbustiva de caráter ornamental, cuidadosamente disposta para valorizar a propriedade, e moradores cujas preocupações ambientais sejam de caráter global, como o desmatamento das florestas tropicais e o buraco na camada de ozônio”, teoriza o biólogo.

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