Utilizo-me de uma expressão cunhada pelo ecólogo espanhol Juan Pedro Ruiz Sanz para me referir a alguns mitos que permeiam as ações de acadêmicos e militantes ligados ao meio ambiente.
São “vacas sagradas”: idéias consensuais politicamente corretas sobre a questão ambiental, mas que, postas em prática possuem consideravelmente menos efetividade do que alardeia o senso comum.
A “criação de reservas naturais” é um desses rótulos. A idéia é bastante razoável: delimitar áreas de grande incidência de biodiversidade, dando-lhes o status de área protegida, e, portanto, a salvo de impactos ambientais. Obviamente, há que se ordenar minimamente um território a fim de que a expansão das atividades humanas seja menos predatória.
Mas poucos se perguntam da real capacidade dessas reservas em proteger ecossistemas. Festejamos um decreto criando um novo parque nacional, mas o fato é que os recursos para o gerenciamento dessas áreas é mínimo.
Na caatinga, um bioma quase tão rico em espécies quanto a Amazônia, há vários parques regulamentados por decretos cuja existência se limita aos mapas: sua delimitação não foi acompanhada da contratação de profissionais para garantir sua integridade.
Mesmo os parques com infra-estrutura compatível não estão isentos de impactos. Podemos cercar uma área de floresta, mas não é possível murar a atmosfera ou os rios: os dejetos de nossas existências de consumo chegarão ali.
Em outras palavras, a criação de espaços protegidos é tão importante quanto a criação de cidades menos perdulárias, e com menos emissão de resíduos. Todos querem a preservação das florestas, mas quantos de nós estaríamos dispostos a diminuir, por exemplo, o uso do automóvel, em prol da natureza?
A resposta-padrão a esta pergunta é: “basta educar a população para um uso racional dos veículos”. Temos aí mais uma vaca sagrada da preservação ambiental: a idéia de que a educação ambiental é uma panacéia para todos os nossos dilemas ambientais.
Que a educação seja uma ferramenta de mudanças, não se questiona. Mas atribuir a ela poderes tão amplos é ingenuidade ou má-fé. Ingenuidade de alguns profissionais que desconhecem a complexidade dos seres humanos: animais que são um amálgama de biologia e cultura, ao mesmo tempo altruístas e egoístas, solidários, mas igualmente tenazes na luta por sonhos, desejos e aspirações individuais.
Má-fé de poderes públicos que usam a educação ambiental como uma cortina de fumaça para ocultar a inércia na resolução de problemas impossíveis de ser equacionados somente com a democratização da informação.
No caso dos veículos particulares, os proprietários sabem que seus bólidos emitem poluição. Mas não vão reduzir seu uso por isso: pesquisas de opinião demonstram que 80% ou mais dos proprietários de veículos declararam ser impossível mudar seu estilo de vida.
Problemas como esse demandam uma resposta que envolve múltiplas ferramentas. Educação ambiental pode ser uma delas, desde que aliada a planejamento urbano, legislação que restrinja o uso dos carros e taxação da emissão dos poluentes emitidos pelos automóveis.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2009
VACAS SAGRADAS DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
(Fábio Angeoletto)
Fabio Angeoletto
"I was nauseous and tingly all over.I either in love or I had smallpox."
(Woody Allen)
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Acho que não podemos perder as esperanças, temos que continuar lutando por um mundo melhor e menos degradado.
ResponderExcluirAcho que uma das formas de conscientizar o outro é cada um de nós darmos um bom testemunho, enquanto uns acham impossível a mudança de hábito e a reeducação do seu estilo de vida, vamos nós mostrar que é possível sim.
òtimp post !
Um grande Abraço