sexta-feira, 16 de abril de 2010

Com quase 40% de mata devastada, Mato Grosso tenta reverter desmatamento

Destruição da floresta se tornou prejudicial ao agronegócio.
Redução do desflorestamento começou com moratória da soja.
Do Globo Amazônia, com informações do Jornal Nacional

Mato Grosso é de longe o maior produtor de soja do país. A tecnologia, a experiência e o pioneirismo de agricultores que vieram do sul do país mudaram a paisagem do estado. O sucesso, no entanto, foi precedido pelo desmatamento com tratores e fogo.



“Para nós tudo era diferente. Tudo era novo. Venho do Paraná, um estado colonizado há muitos anos. E aqui refiz aquilo que nossos pais fizeram no Paraná na década de 40, 30, 50”, conta o produtor de soja Ademir Macorin. “Colocamos as esteiras, correntões, derrubamos o cerrado, queimamos”.

Mato Grosso perdeu quase 40% da mata nativa. Mas, quando a situação parecia fora de controle, algumas medidas passaram a estancar a destruição. Em 5 anos, o desmatamento caiu cerca de 90%.

Uma das forças que impulsionaram esta queda, sem dúvida alguma foi uma iniciativa chamada “Moratória da Soja”. Ela surgiu em 2006 quando a associação que reúne as principais empresas que processam soja no brasil tomaram a decisão de não comprar um só grão de soja que venha de áreas desmatadas em regiões de floresta amazonica. Como estas empresas processam 72% da soja brasileira, tiveram condições de impor a moratória.

Monitoramento

As plantações são vigiadas por satélites e o produtor sabe que se desmatar para plantar, terá dificuldades para vender a produção.


“Então ele pensa duas vezes antes de fazer isso. Talvez ele faça outra coisa, tudo bem, a gente está monitorando soja. Mas é o começo de uma conscientização de preservação da Amazônia”, argumenta Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

A conscientização vem com a pressão dos mercados internacionais, principalmente da Europa, que querem saber a origem dos produtos que consomem. É por isso que Blairo Maggi, grande produtor de soja que acaba de deixar o governo de Mato Grosso,tenta mudar sua imagem de destruidor da floresta para a de amigo do meio ambiente.

“A minha mudança vem disso. É mudança de consciência, que acho que é necessário e importante, e segundo porque também os mercados assim exigem e hoje não há como você produzir de forma diferente”, diz Maggi.

O ex-governador criou o programa MT Legal, que está no início, com resultados ainda pequenos. Pelo programa, quem desmatou acima do limite, terá de reflorestar ou fazer uma compensação.

Compensação

Elso Pozzobon desmatou 50% da área e o limite máximo é 20%. Para evitar multa milionária, vai comprar uma área de mata virgem e doar para um parque do estado, a um custo de R$ 680 mil.

“(É) difícil porque a gente se sente acuado mesmo. Você sabe como é um bicho acuado? Ele fica lá no cantinho dele e espera acontecer. Nós fizemos tudo errado? Nós viemos aqui só fizemos coisa errada?”, reclama Pozzobon.

O desmatamento está em queda, mas muitos acreditam que a pressão por abertura de novas áreas vai aumentar se o mercado de soja crescer.

“Está se falando que daqui a 10 anos vamos precisar de 100 milhões a mais de toneladas de soja. Daonde vai vir essa soja? Se não vier de lugar nenhum o preço da soja vai triplicar, quadruplicar, a gente não sabe até onde vai isso. Daí vai ficar altamente viável fazer o desmatamento aqui. Então como vou impedir o desmatamento? Só tem uma forma: eu pagando pra que as pessoas não desmatem”, diz Glauber Silveira da Silva, presidente da Associação dos Produtores de Soja e de Milho de Mato Grosso (Aprosoja).

Redd

É aí que entra um mecanismo chamado Redd (sigla para redução de emissões por desmatamento e degradação). A idéia é criar um valor para a floresta nativa: o proprietário vai receber uma compensação financeira por fundos internacionais, públicos ou privados. O seu capital será remunerado não abrindo pastos ou plantando soja, mas deixando tudo como está.

“No último painel da ONU se discutiu muito essa questão do Redd. Há uma consciência no mundo inteiro de que as florestas em pé devem valer mais do que as florestas deitadas ou derrubadas, portanto o produtor deve receber por isso”, diz Blairo Maggi.

Trata-se de um mecanismo para quem ainda tem mata nativa. Produtores que já desmataram e querem voltar a legalidade terão de se conformar e pagar pelo que destruíram.

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