terça-feira, 13 de abril de 2010

Em busca de certificação florestal, extrativistas pensam em selo próprio.

No Acre, cooperativa defende certificado com custo reduzido.
Coordenadora do Imaflora diz que assunto é prioridade no FSC.
Lucas Frasão Do Globo Amazônia, em São Paulo


 

 

 

 

 

 

 

 

 

No Amapá, cooperativa produz óleo de castanha e vende farinha excedente para escolas. (Foto: Lucas Frasão / Globo Amazônia)

De olho no mercado de madeira certificada, produtores de reservas extrativistas na Amazônia buscam "selos verdes" para diferenciar seu trabalho e, em não muito tempo, podem ganhar certificação florestal específica para suas áreas de manejo. Adaptada à realidade comunitária, uma nova marca ajudaria a distinguir ainda mais o produto, uma vez que esclarece sua origem, muitas vezes vinculada à tradição cultural dos moradores da floresta.

A possibilidade do novo selo é esperada com entusiasmo por integrantes da Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta), no Acre. O conjunto de comunidades atentou para as vantagens do manejo florestal em meados dos anos 1990. Em 2002, tiveram a primeira experiência com material certificado. Hoje, quatro comunidades de reservas extrativistas no estado já adotam o FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês).

 
A atividade garante renda para cerca de 85 famílias instaladas em uma área de 500 hectares. "Os moradores perceberam que as condições de trabalho melhoraram depois da certificação. Ela encurta o caminho até o mercado consumidor e agrega valor ao produto", explica Evandro Araújo, filho de seringueiros formado na primeira turma do curso de Técnico em Florestas, oferecido pelo governo do Acre, e atual coordenador da Cooperfloresta.

Segundo ele, a criação de um selo comunitário ajudaria a propagar as certificações para outras comunidades e na própria cooperativa, que pretende produzir 10 mil metros cúbicos de madeira até o fim de 2010, obedecendo às diretrizes do FSC. "Não queremos que o selo comunitário pareça melhor que o empresarial. Mas ele pode conter uma história que resulta em mais benefícios. A ideia seria reduzir o custo da certificação para comunidades em pelo menos 50%."

De acordo com Patrícia Cota Gomes, coordenadora de certificação comunitária do Imaflora, entidade que faz a certificação FSC no Brasil, o desenvolvimento de um selo comunitário é tratado de forma prioritária e está sempre entre os principais assuntos nos encontros internacionais do FSC. "Mas o mercado para não madeireiros ainda é incipiente e tem de se desenvolver. Para isso, é fundamental regularizar a questão fundiária", explica ela.

No Amapá, outra iniciativa comunitária poderia se beneficiar com o lançamento de um novo selo. A Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru passou a usar a marca FSC em 2004 e hoje tem clientes importantes, como a Natura, para quem conseguem vender o litro do óleo de castanha por R$ 33. "No fim da produção, sobra a farinha da castanha, que é usada na merenda escolar em todo o estado. Até o fim desse ano, queremos produzir cinco toneladas da farinha", diz Márcio André Furtado Freitas, presidente interino da cooperativa aos 22 anos.

Assim como a cooperativa do Amapá, a Associação de Moradores Produtores Rurais Extrativistas de Urucureá, no Pará, também envia parte de seu trabalho para o Sudeste do país. Gerente de vendas da comunidade, que produz sobretudo artesanato e tem o selo FSC, Rosângela Castro Tapajós tem de cuidar de uma equipe de 32 mulheres. "Hoje, produzimos cerca de 600 peças por mês e podemos vender um pouco mais caro. Antes vendíamos por um preço muito baixo em Santarém", diz.
 
Foto: Lucas Frasão / Globo Amazônia

Associação certificada no Pará conseguiu aumentar preço das peças de artesanato e profissionalizar trabalho. (Foto: Lucas Frasão / Globo Amazônia)

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