segunda-feira, 12 de abril de 2010

Única tribo com 'selo verde' do país está com dificuldade para atrair mercados

População indígena precisa de trabalho e dinheiro     
Kore Kaiapó saiu da Terra Indígena do Baú, a cerca de 100 quilômetros de Novo Progresso, no Pará, e viajou até São Paulo sabendo que precisava tentar resolver um problema.

Em seu estande na ala de iniciativas comunitárias da 4ª Feira Brasil Certificado, realizada na semana passada, ficou à espera de quem se interessasse em conhecer o trabalho de seu povo, representado nas castanhas em cima da mesa.


Aos 32 anos, voltou para casa neste sábado (10) com algumas propostas em mente, mas nenhum contrato assinado. E a única tribo indígena que tem “selo verde” no Brasil continua sem clientes.

De forma pioneira, em 2006, sua tribo se interessou por uma ideia que tem garantido o negócio de grupos privados preocupados com o meio ambiente. É a certificação florestal, por meio da qual empresas conseguem aproveitar recursos da Amazônia sem degradar a mata nativa. Aplicada à Terra Indígena do Baú e seu 1,5 milhão de hectare, esta iniciativa ajuda cerca de 160 famílias a se organizarem em torno da produção de óleo de castanha.

Em busca de uma atividade que gerasse renda para a aldeia, os indígenas da etnia kaiapó resolveram, em 2004, começar a exportar o produto derivado da castanha-do-Pará, cuja colheita representa uma tradição na tribo. O negócio deu certo e, em 2005, Kore e seus conterrâneos conseguiram vender 750 litros do óleo, cada um por R$ 27.

O preço do litro subiu para R$ 40 quando a tribo adotou a certificação florestal, em 2006, por meio da ajuda de uma ONG. Naquele ano, um cliente encomendou quatro toneladas do óleo. Era um salto na produção da aldeia. Mas, no final, o comprador levou apenas a metade do previsto. A negociação havia ficado no contrato verbal, e os indígenas não tiveram como cobrar pela parte excedente, que acabou se perdendo. Desde então, a Terra Indígena do Baú tem enfrentado dificuldades para fechar um negócio confiável.

“Antes, a gente só vivia da mata. Agora, as populações indígenas estão dependentes do dinheiro e precisam trabalhar. Vi muita gente comprando coisas básicas como colchão e sapatos com a renda do óleo de castanha. Vamos continuar divulgando nosso trabalho até alguém se interessar”, explica Kore Kaiapó, que chegou à capital paulista preocupado em, durante um intervalo da feira, comprar calças para seus parentes.

“Existe uma dificuldade para encontrar mercados. A questão é achar compradores dispostos a reconhecer a história do produto”, explica Patrícia Cota Gomes, coordenadora de certificação comunitária do Imaflora, entidade que faz a certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês) no Brasil. Ela lembra que a floresta na região da Terra Indígena do Baú sofre pressões constantes. “Havia garimpo e desmatamento ilegal naquela área. A produção do óleo de castanha ajuda a combater essas atividades, porque garante a renda dos indígenas, que acabam fiscalizando a mata ao partir para a colheita.”

Globo Amazônia
Foto: Lucas Frasão/Globo Amazônia

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