segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pesquisador brasileiro aprimora equipamento criado no século XIX e cria alternativa para comunidades sem acesso à energia elétrica.

Embrapa adapta motor multicombustível

Bruna Bessi, IG São Paulo
 
Um motor desenvolvido na Escócia, em 1816, pelo reverendo Robert Stirling pode voltar ao mercado após adaptações da Embrapa. Direcionado ao uso agrícola, o motor multicombustivel representa uma alternativa às comunidades sem acesso à energia elétrica, já que seu custo é menor do que o de motores convencionais e sua manutenção, mais simples. O equipamento, que funciona graças à expansão e contração do ar em função da temperatura, apresenta boa economia de energia e pode ser abastecido com qualquer fonte de energia térmica, como álcool, biodiesel, madeira e carvão, entre outros.
Nesse motor, também chamado Stirling, há a transformação da energia calorífica, gerada pela queima dos combustíveis, em mecânica. Durante o processo ocorre a variação da pressão, proporcionada pela troca de calor entre o ar quente e o frio, que impulsiona o pistão e movimenta o motor. O ar aquecido se expande e aumenta a pressão interna, mas quando passa pela área de refrigeração se contrai e reduz tal pressão.
No equipamento tradicional, o movimento dos pistões gerava atrito e reduzia a durabilidade e rentabilidade do motor. Na adaptação promovida pela Embrapa, houve a redução dos atritos laterais, dos desgastes nos pistões e cilindros e ainda uma diminuição de 99,99% no ruído gerado. A nova articulação utiliza dois pistões de potência, com deslocamento de 450 cilindradas de ar e funciona com temperaturas entre 250 a 600º. “O inimigo desse motor é o atrito, porque gera calor que, presente na área de refrigeração, faz o rendimento cair”, afirma Aldemir Chaim, engenheiro agrícola e pesquisador da nova tecnologia na Embrapa Meio Ambiente.
A tecnologia do Stirling foi deixada em segundo plano em função do aparecimento de motores mais potentes, como os de combustão interna (gasolina, diesel) e os elétricos. Mas o custo da versão moderna desenvolvida pela Embrapa - entre R$ 150 e R$ 1 mil - e a variedade de opções de abastecimento são dois fatores capazes de impulsionar o uso do equipamento no Brasil, o que aumenta a expectativa da Embrapa na busca por parceiros que produzam o motor em larga escala.
Equipamento pode ser usado como gerador elétrico
Segundo o pesquisador Chain, um motor-gerador que produz 1 kW/h pode ser utilizado como gerador elétrico de emergência em residências urbanas, hospitais, no setor agrícola, entre outros. Outra vantagem deste motor é a ausência de manutenção em curto prazo. “Como não utiliza nenhum tipo de lubrificante, já que poderia prejudicar a qualidade do ar no interior do motor, a manutenção é muito reduzida”, diz.
“Há atualmente muita pressão para o uso de energias sustentáveis, cenário em que essa tecnologia pode ser uma opção. Contudo, o motor não apresenta grande eficiência energética e é preciso encontrar nichos de mercado para competir nessas comunidades”, diz Francisco Nigro, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo.

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