quarta-feira, 5 de maio de 2010

Soja encontra rumo da sustentabilidade

Produtores e ambientalistas superaram divergências e relação entre o agronegócio e o meio ambiente mudou de patamar nos últimos anos 
Venílson Ferreira, de O Estado de S. Paulo  



SÃO PAULO - As lideranças rurais, produtores, indústrias e tradings que atuam no Centro-Oeste jamais esquecerão a campanha "Eating Up The Amazon" (Comendo a Amazônia), desencadeada em 2006 pela organização ambientalista Greepeace. A campanha, que fez sucesso nos meios de comunicação da Europa, alertava os consumidores das grandes redes de fast-food para o fato de estarem contribuindo involuntariamente com o desmatamento, ao consumir frango alimentado com a soja da Região Amazônica.    
A intenção principal era barrar a construção de um terminal em Santarém (PA) pela multinacional Cargill, a maior empresa de alimentos do mundo, mas a campanha atingiu todo agronegócio do Centro-Oeste, principalmente Mato Grosso, onde parte do plantio de soja está dentro do bioma amazônico.
A campanha respingou no então governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), conhecido com um dos maiores plantadores de soja do mundo. Blairo foi "premiado", em enquete feita pelo Greenpeace na internet, com o troféu "Motosserra de Ouro".
Toda essa história é importante para entender a virada no embate entre o agronegócio e o meio ambiente. Blairo Maggi buscou se aproximar das organizações não governamentais, que passaram a ter voz nas discussões sobre a política ambiental em Mato Grosso.
Na última convenção mundial sobre mudanças climáticas, em Copenhague, Dinamarca, Maggi apresentou aos investidores estrangeiros uma proposta, formulada com os ambientalistas, de remuneração pela conservação da floresta pelos agricultores do bioma amazônico, que têm direito a derrubar 20% das matas em suas propriedades.
A indústria brasileira processadora de alimentos também mudou de atitude após as pressões do Greenpeace, que chegou a tentar impedir o descarregamento de um navio de soja em Amsterdã, na Holanda.
Moratória. Em julho de 2006, a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec) assinaram com diversas ONGs a "moratória da soja", que instituiu o monitoramento das fazendas para evitar a compra da mercadoria de áreas desmatadas.
Um episódio mais recente é a "moratória da carne", discutida entre os frigoríficos e as ONGs para restringir a compra de bois oriundos de áreas desmatadas, de criações que invadem reservas indígenas e de propriedades que tenham trabalho escravo. Os termos da moratória devem ser definidos em 11 de maio, numa reunião entre representantes dos frigoríficos e os procuradores do Ministério Público Federal em Mato Grosso.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, diz que o novo relacionamento entre ambientalistas e empresários rurais se deve à mudança de comportamento dos dois lados, "pois ambos já cometeram muitos equívocos". Ele reconhece que as ONGs desempenham papel importante na questão ambiental, mas critica o exagero em relação aos números do avanço da soja. Segundo Silveira, a oleaginosa ocupa apenas 6% de Mato Grosso e 64% são áreas de florestas preservadas.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, a solução para a questão ambiental não está na restrição à comercialização, e sim no adensamento do rebanho de 27 milhões de cabeças de Mato Grosso.
O professor Guilherme Dias, da FEA/USP, também acredita que o principal desafio nos próximos dez anos será modernizar a pecuária de corte, para evitar a abertura de novas áreas.

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