terça-feira, 18 de maio de 2010

Tropeçar na escuridão...Earth Hour 2010


 
Bjorn Lomborg

© Project Syndicate, 2008 www.project-syndicate.org


No que diz respeito a gestos bem-intencionados, a Hora da Terra é invencível. Às 20h30 em ponto do dia 27 de Março, milhões de pessoas em mais de 120 países demonstraram o seu desejo de fazer algo pelo aquecimento global, apagando as luzes durante...

No que diz respeito a gestos bem-intencionados, a Hora da Terra é invencível. Às 20h30 em ponto do dia 27 de Março, milhões de pessoas em mais de 120 países demonstraram o seu desejo de fazer algo pelo aquecimento global, apagando as luzes durante uma hora. Em sinal de solidariedade oficial, também foram desligadas as luzes de alguns dos monumentos mais importantes do planeta, como a Casa da Ópera, em Sidney; ou a Grande Pirâmide de Giza; já para não falar da Cidade Proibida, em Pequim; do Empire State Building, em Nova Iorque; do Big Ben, em Londres; da Torre Eiffel, em Paris; e das luzes de Hong Kong e de Las Vegas.

Independentemente de tudo o mais que possa ser, a Hora da Terra é, sem dúvida, um dos mais bem-sucedidos feitos publicitários. Organizado pela primeira vez em Sidney, na Austrália, em 2007, pela organização local da World Wildlife Fund, a sua popularidade e nível de participação (tanto individual como oficial) aumentou exponencialmente nos últimos anos - de tal maneira que não há praticamente nenhum sítio na Terra onde esta campanha não tenha chegado. Como disse Greg Bourne, presidente-executivo do World Wildlife Fund na Austrália: "Contamos com a participação de todos, desde Casablanca aos campos de safari da Namíbia e da Tanzânia".

Mas a Hora da Terra tem algum efeito prático para deter - ou mesmo abrandar - o aquecimento global? Nem por isso.

A popularidade do evento não é difícil de entender. Quem, à excepção dos cépticos do aquecimento global, podia resistir à ideia, expressa este ano no "site" norte-americano da Hora da Terra, de que simplesmente "apagando as luzes no dia 27 de Março às 20h30 estaria a contribuir para uma nação mais limpa e mais segura"?

Não é preciso dizer que não foi isto que aconteceu. A principal contribuição desta iniciativa foi que durante uma hora era mais difícil ver. O impacto ambiental foi insignificante. De facto, mesmo que todos os habitantes da Terra tivessem participado nesta iniciativa, o resultado seria equivalente a parar as emissões de carbono da China durante 45 segundos.

Naturalmente, este calculo optimista parte do princípio de que ninguém voltou a usar energia eléctrica. Uma recente pesquisa feita por dois psicólogos canadianos concluiu que as pessoas que gastam dinheiro em produtos verdes têm menos probabilidade, logo a seguir, de serem generosas e mais hipóteses de roubar do que as que não compram produtos verdes. Aparentemente fazer algo virtuoso - como desligar as luzes - dá-nos, depois, o direito de agir de forma incorrecta.

Os organizadores da Hora da Terra reconheceram o carácter simbólico desta operação. Segundo afirmaram, apagar as luzes é simplesmente um "pedido de acção". Como explicou o director-geral da WWF, James Leape, é "uma plataforma mundial para que milhões de pessoas expressem a sua preocupação pelos efeitos devastadores das alterações climáticas". Outro representante da WWF afirmou que esta iniciativa é uma forma de "dizer aos nossos políticos que não podem desistir das alterações climáticas". Tudo bem, mas, segundo Andy Ridley, a Hora da Terra tem, actualmente, uma agenda mais concreta. Além de ser a pessoa que teve a ideia desta iniciativa enquanto bebia uns copos com uns amigos em Sidney, Ridley é também o director executivo da Hora da Terra Global e por isso fala com alguma autoridade sobre este assunto: "O que pretendemos é um acordo global que encoraje todos os países a diminuir as suas emissões", disse Ridley à Associated Press.

Aqui reside o grande problema da Hora da Terra. Por muito que nos custe acreditar no contrário, a realidade é que a redução de emissões não vai ser alcançada com um acordo. Se isso fosse politicamente possível, já teria sido feito há muito tempo - se não na Cimeira da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, então em Quioto, 12 anos mais tarde; e se não em Quioto, então em Copenhaga, em Dezembro passado. Mas isso não aconteceu.

De facto, após quase duas décadas a tentar, o melhor acordo climático alcançado pelos países é um que não impõe obrigações reais, não fixa metas vinculativas em matéria de emissões nem exige acções específicas por parte de nenhum país. Não há dúvidas de que há uma lição a tirar desta situação.

Lamentavelmente, os organizadores da Hora da Terra preferem ignorar esta realidade inconveniente. Mas não há forma de lhe fugir. Se queremos resolver o problema do aquecimento global, temos que adoptar medidas que na verdade tenham efeito - em vez de gastar recursos valiosos em acordos vazios e em posturas morais que apenas nos fazem sentir bem. Desligar as luzes e prometer reduzir as emissões de carbono pode fazer-nos sentir, momentaneamente, virtuosos, mas é só isso que faz.

Uma solução válida para o problema do aquecimento global deve centrar-se na investigação e desenvolvimento de energias limpas, em vez de fixar a atenção exclusivamente em promessas vazias de redução das emissões de carbono. Por apenas 0,2% do PIB mundial, ou seja, 100 mil milhões de dólares por ano, poderíamos alcançar os avanços tecnológicos necessários para tornar a energia verde suficientemente barata para alcançar um futuro livre de carbono. Deixemos, então, de dar tropeções na escuridão e façamos algo por um futuro mais brilhante.


Bjørn Lomborg é director do "think tank" Copenhagen Consensus Centre na Copenhagen Business School e autor do livro "Cool It: the Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming".


© Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques

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