segunda-feira, 28 de junho de 2010

Projeto de biólogo mostra degradação do meio ambiente no Rio

Mário Moscatelli faz fotos aéreas das áreas verdes há 14 anos.
'Entra ano, sai ano, só vejo degradação', afirma.

Bernardo Tabak Do G1 RJ
Em 1997, o biólogo Mário Moscatelli, então com 32 anos, resolveu empreender um projeto de monitoração de áreas verdes na Região Metropolitana e no Litoral Sul do estado do Rio de Janeiro. O objetivo do Projeto Olho Verde era fazer sobrevoos para tirar fotos aéreas, de modo a acompanhar a degradação de matas, encostas, mangues, rios, lagoas e baías. Para a desolação do biólogo, desde o começo as imagens não eram nada animadoras. "Não tem foto bonita desde o primeiro voo. Entra ano, sai ano, só vejo degradação", afirma.
Passados 14 anos, Moscatelli está pessimista com o futuro do meio ambiente que os dois filhos pequenos vão desfrutar. "Infelizmente, falta muito para os gestores públicos e, principalmente, a sociedade entenderem que estamos cavando nossa própria sepultura", sentencia Moscatelli
Essa previsão é baseada nas centenas de fotografias que o biólogo tirou, praticamente todos os meses, ao longo de quase uma década e meia. As imagens comprovam como a ação do homem devastou planícies e encostas para a construção de favelas e condomínios de luxo, poluiu bacias hidrográficas com esgoto in natura e desmatou imensas áreas verdes para a criação de lixões.
Antes e depois meio ambiente mario moscatelliMário Moscatelli comparou as fotos, tiradas com uma diferença de dez anos (Foto: Mário Moscatelli/Divulgação)

"Rios foram transformados, institucionalmente, em valões de esgoto. Os rios Faria, Jacaré, Irajá, São João de Meriti, Sarapuí-Iguaçu e Guaxindiba, todos com grande volume de água, hoje, são esgoto puro", denuncia Moscatelli. "Esses rios não têm mais vida. Morreram", diz. O biólogo inclui nesta lista as bacias hidrográficas de Sepetiba, da Baixada de Jacarepaguá e a Baía de Guanabara. "Os rios levam esgoto para lagoas e baías, que se transformaram em imensos penicos", afirma.
O flagrante, do começo de 2010, mostra a enorme quantidade de
 esgoto saindo do Canal da Joatinga.O flagrante, do começo de 2010, mostra a enorme
quantidade de esgoto saindo do Canal da Joatinga.
(Foto: divulgação/Mário Moscatelli)
Programa para despoluir Baía de Guanabara teve várias paralisações
Orçada inicialmente em US$ 793 milhões, as obras do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que começaram em 1994, sofreram sucessivas paralisações. De acordo com a Secretaria estadual do Ambiente (SEA), cerca de R$ 2 bilhões já foram gastos no PDBG.
Das três estações de tratamento de esgoto (ETEs) construídas, as ETEs da Pavuna e de Sarapuí estão funcionando precariamente, já que a rede coletora para captar o esgoto das cidades no entorno da baía só está sendo construída agora. A ETE de Alegria, a maior das três, fazia parte da primeira fase do projeto, deveria ter sido concluída em 1999, mas só foi inaugurada completamente dez anos depois do prazo inicial: em 2009.
De acordo com a SEA, o governo do estado vai pleitear mais R$ 1,4 bilhão junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para construir toda a rede coletora de esgoto até a Copa de 2014. Caso o empréstimo seja concretizado, o custo do PDBG vai superar em mais de R$ 2,6 bilhões a previsão orçamentária inicial.
Estação de tratamento prevista para o Pan-2007 ainda está em obras
No âmbito municipal, a construção da Unidade de Tratamento de Rio (UTR) de Arroio Fundo, na Zona Oeste, é outro exemplo de atrasos e desperdício de verbas públicas. A obra, que tem a finalidade de tratar o esgoto lançado no Canal do Arrio Fundo, ajudaria a despoluir a Lagoa da Tijuca. A previsão era inaugurar a UTR nos Jogos Pan-Americanos de 2007, mas até hoje a obra não foi finalizada.
De acordo com a Rio-Águas, órgão da Prefeitura do Rio, o orçamento inicial previa um gasto de R$ 23 milhões. Agora, segundo a Rio-Águas, deverão ser gastos R$ 26 milhões até a inauguração da obra, prevista para outubro deste ano.

Biólogo diz que é possível recuperação em 20 anos
Apesar de todos os problemas, Moscatelli afirma ser possível despoluir rios, lagoas e baías a médio e longo prazo. Segundo ele, várias UTRs devem ser instaladas nos leitos dos rios.

"Em dois anos não teremos mais esgoto chegando. Vão ser necessários mais cinco anos para fazer dragagens, retirar o lodo depositado no fundo e recuperar os manguezais", calcula o biólogo. "Tecnicamente falando, incluindo as políticas de saneamento, habitação e transporte, em 20 anos é possível reverter o processo de degradação de 200 anos", afirma.
A foto, do ano 2000, mostra a ocupação irregular de Vargem 
Pequena, tanto por barracos, como por casas luxuosas.A foto, do ano 2000, mostra a ocupação irregular de
Vargem Pequena, tanto por barracos, como por
casas luxuosas. (Foto: divulgação/Mário Moscatelli)
Nem todos os órgãos públicos responderam ao G1
Desde quarta-feira o G1 entrou em contato com os órgãos públicos diretamente envolvidos nesta reportagem. Entretanto, nem todos responderam aos telefonemas ou e-mails.
A Rio-Águas informou que a obra da UTR do Arroio Fundo foi paralisada em 2007 devido à falta do repasse de recursos do Ministério dos Esportes. O Ministério dos Esportes explicou que uma parcela da verba não foi repassada porque a prefeitura do Rio não prestou contas na época.
A Secretaria Municipal de Habitação do Rio informou que, desde janeiro de 2009, já removeu 4,1 mil famílias de áreas de risco, como encostas e beiras de rios e lagos, e as reassentou. Até o fim de 2012, a intenção é reassentar 13 mil famílias.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio (SMAC) informou que, apesar de as lagoas da Baixada de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca estarem situadas na capital, são responsabilidade do governo do estado. A SEA não respondeu ao e-mail enviado pelo G1 sobre esse assunto e sobre os rios Faria, Jacaré, Irajá, São João de Meriti, Sarapuí-Iguaçu e Guaxindiba.
A Cedae não retornou às ligações do G1 para informar quais outras ETEs estão previstas, nem quando as da Pavuna e de Sarapuí vão funcionar plenamente, nem quando vão terminar as obras das redes coletoras de esgoto.

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