Em três dias de janeiro de 2005, meio bilhão de árvores podem ter sido mortas por tempestades enfileiradas que varreram a Amazônia de sudoeste a nordeste.
A área do estrago, estimada em 9.000 km2, equivale a quase uma Jamaica. É mais do que tudo o que se desmatou na Amazônia em 2009.
Para os pesquisadores responsáveis por descrever o fenômeno, o desastre pode ser uma amostra incômoda do que o aquecimento global trará para a floresta.
Numa Terra mais quente, eventos do tipo podem ficar mais comuns. Isso poderia causar, por sua vez, um círculo vicioso: mais calor mataria mais árvores, o que liberaria mais carbono no ar, aumentando o calor.
O estudo descrevendo a megaderrubada será publicado na revista científica “Geophysical Research Letters” e tem coautoria de cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e da Unesp.
“Creio que se trate de um fenômeno meteorológico relativamente comum. O que ocorre é que ele ainda não havia sido reportado”, disse à Folha o meteorologista Carlos Raupp, da Unesp.
Raupp explica que os pesquisadores detectaram uma grande linha de instabilidade – aglomerados de tempestades que se alinham por até 1.000 km de extensão.
Entre 16 e 18 de janeiro de 2005, um monstro desses saiu da Bolívia e partiu rumo à ilha de Marajó. No caminho, ventos de até 145 km/h mataram gente em Manaus, Manacapuru e Santarém.
Fechando as contas – Tempos depois, a equipe usou dados de satélite e observações de campo para comprovar o estrago deixado pelo vento na região de Manaus.
Estimam que, só ali, a linha de instabilidade causou a morte de umas 500 mil árvores – o que ajudou o grupo a fechar as contas da destruição da mata em 2005.
Isso porque, embora a grande mortalidade de árvores na Amazônia nesse ano tenha sido atribuída à seca severa que também assolou a região, “a área de Manaus não chegou a ser afetada”, lembra Raupp. A explicação mais plausível, pelo tipo de dano à vegetação, é que a tempestade seja a culpada.
Embora o número de meio bilhão de árvores seja uma extrapolação, já que os cientistas não possuem dados para a Amazônia inteira, Raupp diz que ele faz sentido diante do trajeto da tormenta.
“Em geral, um clima mais quente pode trazer mais tempestades severas, porque a atmosfera consegue reter mais vapor d’água”, diz Raupp. Supertormentas como a 2005, portanto, poderiam causar estragos piores na Amazônia do futuro. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)
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