sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Manter a Amazônia 'de pé' vale muito mais para o Brasil.

Floresta estoca em sua biomassa o equivalente em CO2 a dez anos de emissões globais. Cálculos do Ipam demonstram que vale duas vezes mais em pé do que devastada
[ i ] Cálculos do Ipam demonstram que vale duas vezes mais em pé do que devastada. Foto: Arquivo Cálculos do Ipam demonstram que vale duas vezes mais em pé do que devastada.
A Amazônia é o mais importante bioma do planeta, pela biodiversidade e por seu papel de regulação do clima mundial. De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Brasil é um dos países que mais emitem gases de efeito estuda por meio das queimadas, responsáveis por 57% das emissões. O maior desafio nesse cenário de mudanças climáticas é conter o desmatamento, para ser capaz de cumprir metas de redução nos próximos anos.
Boa parte das queimadas é feita para propiciar a produção de grãos e de carne. De acordo com Paulo Moutinho, diretor executivo do Ipam, a substituição da floresta inteira por pastagens e plantações de soja valeria cerca de US$ 250 bilhões. Conservada, levando em conta só o valor do carbono estocado em suas plantas, ela vale pelo menos o dobro: US$ 500 bilhões. O mais preocupante é que essas duas atividades contribuem muito pouco para o crescimento do País.
A devastação da floresta é “o calcanhar de Aquiles" do Brasil no que diz respeito às emissões, opina o pesquisador Roberto Schaeffer, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O desafio é conter as queimadas e, ao mesmo tempo, transformar seus recursos naturais numa alavanca inédita de desenvolvimento econômico sustentável de baixo carbono.
"O governo precisa acordar para o fato de que, num mundo aquecido, quem sair na frente com essa economia vai ter uma vantagem competitiva muito grande", disse Moutinho à Agência Estado. Dados do Ipam apontam que a frequência dos incêndios florestais na Amazônia está mudando rapidamente. Ao invés do ciclo natural de ocorrência de 400 a 900 anos, parte da região mais fragmentada da Amazônia (Amazônia oriental) está queimando em intervalos de 12 a 24 anos.
Esse é um dos resultados da pesquisa Modelagem de Incêndios Florestais da Amazônia, coordenado pela geógrafa Ane Alencar, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e realizado em parceria com o Ipam, no projeto “Modelagem do Uso da Terra”. Segundo Ane, entre 1984 e 2008, foram mapeados 24 anos de história de incêndios florestais em três paisagens da Amazônia oriental, representando três tipos de floresta: densa, aberta e de transição.
“Essa história de fogo foi utilizada para determinar a relação entre a extensão dos incêndios florestais na Amazônia e fenômenos climáticos como o El Niño”, explica a pesquisadora. O trabalho faz uso do primeiro banco de dados histórico de incêndios florestais da Amazônia. “Esse banco de dados é fundamental para abastecer os modelos de fogo que preveem secas futuras para a Amazônia”, diz a geógrafa, que também é pesquisadora do Ipam.
O monitoramento da Amazônia, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostra que houve avanços na tarefa de conter o desmatamento. O tamanho da área de floresta derrubada anualmente na Amazônia encolheu mais de 70% nos últimos cinco anos, de 27.772 quilômetros quadrados em 2004 para 7.464 km², em 2009. E dados preliminares do Inpe para este ano também indicam uma forte tendência de queda.
Para o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, o “dilema agora é equacionar a questão econômica, para relaxar medidas restritivas sem que as atividades ilegais sejam retomadas”. Ele se refere ao aproveitamento econômico sustentável às florestas, por meio de alternativas econômicas para comunidades da região, que sempre dependeram do desmate para sobreviver.
"A floresta precisa ter valor em pé", diz Moutinho, ressaltando que isso não significa colocá-la numa redoma. "Há muitos recursos florestais e serviços ambientais que podem ser explorados de forma sustentável”, acrescenta. Nesse cenário de mudança climática, o recurso mais visado no mercado global de sustentabilidade é o CO2. Via fotossíntese, é absorvido a atmosfera e estocado nos tecidos das plantas.
Só a Amazônia guarda o equivalente em CO2 a dez anos de emissões globais por queima de combustíveis fósseis. Sem contar o Cerrado, que também estoca grandes quantidades. Apesar de não ser decisivo para o aquecimento global tanto quanto o desmtamento, cientisas estudam maneiras de se aumentar o estoque de carbono que já é armazenado naturalmente na biomassa, como forma de mitigar a emissão de CO2 para a atmosfera.
O Redd, sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, tem sido discutido como principal mecanismo proposto para valorizar esses estoques, mediante o pagamento pela preservação de florestas e do carbono contido nelas. "O dinheiro que vier do Redd tem de ser usado para estimular atividades produtivas que gerem renda, não só para criar reservas", diz Câmara. "Caso contrário, não vai funcionar." As regras do mecanismo estão sendo negociadas na Convenção do Clima da ONU.

Por: d24am.com

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