sábado, 3 de abril de 2010

Oficina de Unidades de Conservação na Floresta Nacional do Macauã



Escrito por Miriane Teles, Assessoria Sismat   
03-Abr-2010
Curso tem objetivo de mapear recursos naturais da unidade Saindo de Sena Madureira, os técnicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Ibama e ICMBio sobem a bordo de duas voadeiras que iniciam seu trajeto pelo largo e caudaloso rio Yaco. Destino: Floresta Nacional do Macauã, conhecida como Flona do Macauã. Uma viagem que dura sete horas e meia. O mesmo deslocamento duraria um dia inteiro se fosse em um batelão. Na floresta, recepcionados pelas nuvens de mucuins, meroins e pelo canto dos japiins se instalam na sede do Centro de Trabalhadores da Amazônia (CTA), uma estrutura do governo federal, local que logo ao amanhecer recebe a oficina do Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (Seanp). Para facilitar a gestão participativa das Unidades de Conservação e o monitoramento das demais Áreas Protegidas Estaduais, foi criado o Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas – SEANP. O Seanp é o conjunto de unidades de conservação e terras indígenas existentes, que formam o corredor ecológico do Estado. A proposta da oficina do Seanp é a de ser a ponte de acesso entre os ribeirinhos, políticas públicas e esclarecimentos sobre unidade de conservação. “Foram dois dias de oficina e o mais importante desse trabalho é orientar a visualização deles para o todo que a floresta é, para que eles não vejam só seu pedacinho de terra. Assim estamos empoderando de um modo de vida sustentável, interessante para eles e para o meio ambiente”, comenta a técnica Vanessa Soares. A oficina mapeia os recursos naturais da unidade de conservação, ou seja, os moradores contam o que pescam, o nome dos igarapés, os animais que caçam, etc. Essas informações representam a atualização da base de dados do Zoneamento Ecológico Econômico. “E é só no campo, entendendo a forma de viver dessas famílias, que dá para trabalhar com as necessidades e expectativas a serem construídas para a localidade” afirma o técnico do Ibama, Tadeu Rocha. Um dos encaminhamentos estabelecidos é a apresentação do programa de certificação da propriedade, na qual de acordo com a adaptação da colocação o proprietário recebe um bônus. “O bônus pode não parecer muito olhando individualmente, mas aqui eles estão organizados em uma associação, todos juntos podem conseguir um benefício maior e que de acordo com a realidade deles traga melhoria na qualidade de vida”, explica o técnico da Sema, Adriano Santos. Yaco acima - A sabedoria de uma vida inteira como barqueiro do seu Francisco faz ele subir cortando o rio, zigue-zague, “que é pra enfrentar melhor a correnteza”, comenta. O rio é tortuoso e está muito cheio devido às chuvas e por isso a impressão é que ele invadiu a floresta, pois não tem sua margem bem definida, impressão que lembra as descrições de Euclides da Cunha em suas expedições com a missão de delimitar as fronteiras acreanas. Assim que o sol fica forte, os tracajás ficam expostos a beira do rio. E é da beira que vem espreitar os moradores que estão atentos ao barulho do motor da voadeira que invade a pacata comunidade. Acenam. Nesse contexto que se dá para entender a real importância das políticas públicas, da florestania e da luta dos cidadãos que sobrevivem dentro da Amazônia. “O trabalho do governo do estado segue o exemplo de Chico Mendes, pois ele valorizou os povos da floresta”, enfatiza o secretario de meio ambiente, Eufran Amaral. Florestania O Acre é o estado da Amazônia brasileira que mantém uma das maiores áreas de floresta tropical intacta. Também é sede do Corredor Ecológico do Oeste da Amazônia, considerado da mais alta prioridade para conservação da biodiversidade no Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente. São três unidades de conservação de proteção integral (incluindo as áreas verdes instituídas pelo poder municipal, somam-se sete unidades de conservação) e dezesseis unidades de conservação de uso sustentável. Na instância estadual são quatro florestas, duas áreas de proteção ambiental e um parque estadual, estando alguns projetos em andamento. A Floresta Nacional do Macauã é uma unidade de conservação de uso sustentável, criada pelo Decreto Federal N.° 96.189, de 21 de junho de 1988, que estabelece sua administração, conselho gestor e manejo para a área de 173.475 hectares de extensão. Localizada na Amazônia Ocidental, na regional do Purus, no município de Sena Madureira, às margens do Rio Macauã. “O processo para que aqui se tornasse uma unidade de conservação levou 2 anos de conversa, porque a gente não tinha o conhecimento do que era unidade de conservação e nem o que isso ia trazer pra gente. Mas essa foi a decisão certa pra nós, porque agora ta mais fácil das coisas do governo chegarem aqui”, declara o morador da Flona, Raimundo Rodrigues. Produção Os moradores da Flona têm sua origem nas famílias de seringueiros que ocuparam a região no fim do século XIX, provenientes do fluxo migratório nordestino. Os migrantes vieram interessados na extração da borracha, produção que devido ao seu grande destaque foi denominada como “ouro negro”. É com a produção asiática que inicia a crise da borracha. A seringueira que proporcionava grandes safras anuais perde mercado e com a desvalorização do produto a solução são produções alternativas, como: feijão, milho, extração de madeira e exploração de produtos típicos da Amazonia, além da castanha, realidade que se mantém até os dias de hoje. Novas opções de produtivas vieram recentemente com o trabalho dos técnicos dos órgãos ambientais em campo. A técnica do Ibama Iria de Oliveira evidencia sobre a copaíba: “Ano passado foram colhidos 500kg de copaíba, que foram vendidos a R$20 o kilo”. Permanece uma expectativa positiva quanto a continuidade do trabalho. O Cidadão da floresta A Floresta Nacional do Macauã é o lar do Raimundo Ribeiro, que nasceu às margens do Yaco, cresceu trabalhando como seringueiro e quebrando castanha e todos seus filhos nasceram e se criaram aqui e daqui nunca saíram. “Felicidade é isso...ter nossa terra e na terra tirar nosso sustento”, conta. A vida é dependente do rio. Ribeirinhos por natureza. Acostumados com as onças que espreitam, mas não atacam “porque aqui tem muita caça, elas não tem motivo para atacar”, tranqüiliza a parteira, Amália Vieira. São 23 famílias que residem na Floresta do Macauã. A maioria das pessoas nunca saiu da Flona e são todos nascidos na floresta. Para essas famílias, a florestania não é apenas um conceito ou uma política, mas sim um modo de vida, de uma vida batalhada.
 

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