No início de 2011, um grupo de pesquisadores do Laboratório de Nutrientes, Micronutrientes e Traços no Oceano (Labnut) do Instituto Oceanográfico (IO) da USP irá realizar medições e estudos no Estreito de Bransfield, na Antártica. O objetivo dos cientistas será avaliar a quantidade de CO2 capturado da atmosfera por organismos marinhos e como essa captura contribui para diminuir o efeito estufa no planeta.
A pesquisa intitulada Aplicação de 234Th como traçador das fontes e sumidouros de elementos-traço e do carbono exportado no Estreito de Bransfield, Península Antártica – Carbo-Thorium estudará o fenômeno conhecido como sequestro de carbono no Oceano Antártico. A professora e coordenadora do projeto Elisabete de Santis Braga explica que alguns organismos da superfície dos oceanos, como algas do fitoplâncton, absorvem CO2 enquanto realizam fotossíntese. Esse processo transforma o carbono gasoso vindo da atmosfera em uma forma orgânica dissolvida. “Esse carbono, por sua vez, é passado a outros seres da cadeia alimentar marinha que consomem as algas do fitoplâncton”, esclarece a professora.
Parte desse carbono é devolvido à atmosfera como CO2 durante a respiração dos organismos consumidores. Uma outra parte sofre afundamento para uma região abaixo de 200 metros de profundidade, onde as condições de luz praticamente não permitem a presença de seres fotossintetizantes. “Durante a alimentação de um organismo pelo outro, sobram detritos que acabam afundando. Também, organismos mais velhos, ao morrerem, acabam afundando para abaixo da linha dos 200 metros. Esse carbono tem uma chance muito remota de retornar à atmosfera”, descreve a professora.
Devido à presença de nutrientes nos oceanos, em especial, à grande quantidade que existe no Antártico, que é reconhecidamente uma região de alto potencial de produção de matéria orgânica, o grupo de pesquisa do Labnut acredita que a captura de CO2 da atmosfera, e sobretudo o seu afundamento, podem contribuir significativamente para amenizar o efeito estufa no planeta.
A professora ressalta que já existem várias pesquisas, no Brasil e no exterior, que investigam a captura de carbono na superfície (até 200 metros). Por isso o projeto medirá o sequestro de carbono para regiões mais profundas. “Nosso estudo vai trabalhar na quantidade de carbono que afunda abaixo dessa faixa que vai de 200 até 6.000 metros de profundidade. Queremos medir esse fluxo de carbono que raramente volta à superfície”, explica Elisabete.
Métodos e investimentos
Para medir o afundamento, os pesquisadores farão medições de nutrientes (nitrogênio, fósforo e silício) e micronutrientes, em especial o Ferro, e do radioisótopo Tório (234Th), elemento que está naturalmente presente nos oceanos. “A partir da concentração do Tório na água associado aos demais componentes analisados é possível medir quimicamente a verdadeira quantidade de carbono que passa para a região profunda”, afirma Elisabete. Devido a multi e interdisciplinaridade dessas medições e outras análises, o projeto contará com a parceria do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da USP.
Além da professora Elisabete participarão na viagem, prevista para abril de 2011, a professora Joselene de Oliveira, do Ipen, e mais 10 alunos da pós-graduação.
O investimento do estudo será de R$600 mil, com verba disponibilizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Ciência e Tecnologia e Programa Antártico Brasileiro (Proantar). A professora acredita que o projeto colocará o Brasil em igualdade com os grandes centros de pesquisas internacionais e contará com a construção de um laboratório container.
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