quarta-feira, 3 de junho de 2009

Galileo Expedições Patagônia 2009 – Parte 1, por Cyro Watari

Cyro Watari
Imagem(s): Divulgação

A partida
Após oito meses de árduo trabalho da Galileo Expedições, desde o planejamento geral, da compra de um ônibus, desenvolvimento de projetos, fornecedores e prestadores de serviços (mecânicos, serralheiros, marceneiros, tapeceiros, eletricista, despachantes, adesivagem, entre outros), enfim, até sua transformação em um motor home.

Faltando 45 dias da data da viagem, recebi um convite para ser o cinegrafista e integrar a equipe da Galileo Expedições Patagônia 2009.

Dia 13 de abril de 2009: finalmente chegou a data da nossa tão esperada partida.

O Motor Adventure (nome escolhido para o motor home) foi construído para acomodar até 10 pessoas, possui cabine de comando, sala de convívio com Tv, DVD e som ambiente, aquecedor, cozinha equipada, chuveiro, banheiro e espaçosas camas.

As 22 horas debaixo de um insistente chuvisco e protegido por um teto de zinco de uma empresa de transportes na cidade de São José dos Campos, eu, Walter Baére (50), Fabrício Carvalho (33), Danilo Okamoto (27) e Marcelo Brito (39), ajeitamos toda bagagem, malas com muitas roupas de frio, equipamentos de fotografia e filmagem, notebook, alimentação, uma canoa, um caiaque, duas mountain bikes, equipamentos de escalada, algumas peças sobressalentes e muitas ferramentas.

Patagônia
Nosso destino: a Patagônia, localizada ao sul da Argentina e Chile, uma região com aproximadamente 800.000 km2, tendo a maior parte do seu território formado por uma planície árida e deserta.

Desde a sua descoberta, em 1520 pelos expedicionários espanhóis, continua sendo um dos mais belos e inóspitos lugares do planeta, com aproximadamente um habitante por quilômetro quadrado.

Durante seis dias de viagem, a rotina da tripulação foi revezar a direção (Baére e Marcelo, os únicos com habilitação profissional), consultar mapas do trajeto, cozinhar, comer, lavar a louça, dormir, apreciar a paisagem, diferente de viajar de carro e muito mais confortável e prazeroso, dando até para caminhar durante a viagem.

Primeira parada: El Calafate
Após 4.970 km de estradas, a chegada às 20 horas do dia 19 de abril em El Calafate, na província de Santa Cruz, penúltima região da Patagônia, antes da Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina.

O nome El Calafate é proveniente de uma árvore típica da região, a “Calafate”, que produz uma fruta muito utilizada na fabricação de doces e geleias.

Com temperatura média anual de 9 graus célsius esta charmosa cidade com característica europeia lembra em muito a cidade serrana de Campos do Jordão no interior paulista, tendo como principal fonte de renda o turismo e localizada às margens do lago Argentino, o maior e mais austral dos lagos patagônicos.

Um dia de descanso merecido e fomos fazer um “city tour”. Em 2003 quando estive aqui, havia aproximadamente 5 mil habitantes, e hoje, pouco mais de seis anos já se contabiliza quase 20 mil habitantes devido ao rápido crescimento e investimento no turismo.
Apesar do crescimento, pudemos presenciar algumas ações a favor do meio ambiente. Lixeiras com coleta seletiva e a proibição dos supermercados distribuírem sacolas plásticas.

Com excelente infra-estrutura, um moderno aeroporto com voos direto de Buenos Aires, ótimos hotéis, bons restaurantes, várias agências e operadoras de turismo atendem os milhares de visitantes do mundo inteiro atraído pelas belezas do Parque Nacional Los Glaciares, cujo lado sul está a apenas 90 km de El Calafate.

As geleiras
O destaque principal de Los Glaciares é o glaciar Perito Moreno, um imenso rio congelado há mais de 20 mil anos com 5 km de largura, 70 metros de altura e mais de 35 km de extensão: um espetáculo da natureza. O parque oferece boa estrutura, com estacionamentos, restaurante, sanitários, internet, loja de “souvenires”, passeios de barco, uma extensa passarela que possibilita aproximar a 200 metros do glaciar e até uma caminhada sobre o glaciar com equipamentos e acompanhamento de guia.

No dia seguinte, em El Calafate, contatamos a empresa Servi Car (www.servicar4x4.com.ar) e fizemos um fantástico passeio de quadriciclo contornando parte do lago Argentino, percorrendo 44 emocionantes quilômetros passando por terrenos variados, de vegetação rasteira, cascalhos e areia, exigindo técnica e certa força para controlar o quadriciclo, parando nas dunas para apreciar o belíssimo visual do maior lago da Patagônia. Pura diversão!

Él Chatén, Capital Nacional do Trekking
Já pra quem está em busca muita aventura e beleza selvagem, o endereço fica no lado norte de Los Glaciares, mais precisamente na cidade de Él Chaltén, a 290 km de El Calafate, e foi pra lá que partimos no dia seguinte.

A 12 km de El Calafate, fizemos uma parada a beira da estrada para praticar escalada em rocha em Cerro Comiciones, um monolito de rocha de aproximadamente 80 metros de altura e 400 metros de largura, repleto de vias de escalada.

Após o almoço, prosseguimos viagem até a pequena cidade de Él Chaltén, que mais parece uma vila, rodeada por belas montanhas com seus picos nevados.

Él Chaltén é mundialmente conhecida como Capital Nacional do Trekking e muito procurado por aventureiros em busca de natureza selvagem e desafios. Seus principais atrativos são o Cerro Torre e Fitz Roy, gigantescas montanhas de granito que se elevam a mais de três mil metros e desafiam alpinistas do mundo inteiro. Esta última, conhecida como Él Chaltén, dando origem ao nome do lugar e que na língua indígena significa “montanha que solta fumaça”, devido ao constante acúmulo de nuvem em seu topo.

Chegamos ao final do dia com ventos fortes e chuviscos. Com tempo assim, o melhor foi tirar o resto do dia se ocupando com outros afazeres (limpando os equipamentos de fotografia e filmagem, jogando dominó, tirando um cochilo ou vendo um filme).

Na manhã seguinte, acordo às 8 horas e o dia está começando a clarear. Nessa época, até o sol é preguiçoso, nasce por volta das 8h30 e se põe às 18 horas.

Olho para o céu e está limpo, a chuva se foi. É quase impossível prever o tempo na Patagônia; em um mesmo dia pode amanhecer com céu azul e em questão de minutos, junto com o vento forte virem pesadas nuvens, fazendo despencar mais ainda a temperatura, começar a chover, a nevar e algumas horas ou minutos depois, abrir novamente o tempo. Tudo muito instável e misterioso.

Nosso primeiro trekking
Tomamos um bom café da manhã e preparamos as mochilas com os equipamentos de escalada, de filmagem, fotografia, primeiros socorros, água e lanche seguindo a pé por uma das dezenas de trilhas espalhadas que partem de Él Chaltén em direção ao Cerro Torre.

Até a base da montanha são pouco mais de oito quilômetros subindo por uma trilha, passando por bosques de lengas, árvores típicas da região, cruzando riachos e paisagens rodeadas por montanhas nevadas.

Três horas e meia depois, uma parada em frente à laguna Torres para um lanche e começam a cair pequenos flocos de neve, formados pela nuvem cinzenta que se acumula no cume do Cerro Torre e trazidos pelos ventos cortantes da Patagônia.

Decidimos continuar a caminhada até o glaciar Torre, uma geleira aos pés do Cerro Torre. Para isso, foi preciso atravessar o rio por uma pequena tirolesa (travessia conectada a uma polia e corda fixa). Eu, o Baére e o Fabrício nos equipamos com as cadeirinhas de escalada e fizemos a travessia.

Continuamos a caminhada por um terreno íngreme por mais uma hora.

O tempo começou a fechar, o relógio marcava quase quatro horas da tarde e ainda faltava mais uma hora de caminhada até o glaciar.

Por questões de segurança e para não correr o risco de retornamos ao anoitecer, optamos em dar meia volta. Sábia decisão. Chegamos ao Motor Adventure com os últimos minutos de luz natural, cansados, mas felizes. Um banho quente, devoramos o jantar, nos planejamos para o dia seguinte e cama....

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário... o Planeta agradece!!!